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    Hélio Schwartsman

    O preço da vida

    03/06/2015 02h00

    SÃO PAULO - Ao que tudo indica, em sua coluna de domingo passado, o Antonio Prata pôs seus dois filhos à venda por US$ 5 milhões. Como ele não é do tipo que discrimina por sexo e idade, imagino que esteja pedindo US$ 2,5 milhões em cada um. Parece um bom negócio. Na verdade, uma pechincha.

    Prata não é o primeiro nem o último a pôr uma etiqueta de preço na vida humana. Governos, seguradoras e o pessoal da análise de risco fazem isso o tempo todo. Para a EPA, a agência ambiental norte-americana, uma vida vale US$ 9,1 milhões. Já o FDA, órgão que controla os medicamentos nos EUA, acha que uma pessoa custa US$ 7,9 milhões.

    Os britânicos são mais sovinas. Para o governo de Sua Majestade, um súdito sai por 1,6 milhão de libras (US$ 2,43 milhões), segundo estimativa do Departamento de Transportes. Considerando que a expectativa de vida de um britânico é de 81,5 anos, podemos calcular o valor que o governo atribui a uma hora de existência terrena: 2,24 libras. É bem menos do que o salário mínimo local para maiores de 21 anos, que está em 6,50 libras por hora.

    Embora muitos considerem absurdo reificar pessoas em valores monetários, no mundo moderno é impossível deixar de fazê-lo. Sem essas cifras, com tudo o que há de arbitrário nelas, questões triviais, como reformar ou não a curva de autoestrada que mata, digamos, 2 pessoas por ano, se tornariam indecidíveis.

    Gostemos ou não, essas contas são necessárias. Elas podem ser explícitas, ou permanecer como um um segredinho sujo, mas estão lá. Nos meios atuariais, atendem pelo apelido VOSL, que é o acrônimo inglês para Valor Estatístico da Vida.

    Até entendo que nos sintamos melhor proclamando que a vida não tem preço e cada indivíduo é infinitamente valioso, mas espero que os encarregados de decidir investimentos em segurança, saúde etc. não acreditem nisso e façam seu trabalho.

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

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