SÃO PAULO - O título do último livro de Peter Ward e Joe Kirschvink é pretensioso: "A New History of Life" (uma nova história da vida), e o subtítulo, "as radicais novas descobertas sobre as origens e a evolução da vida na Terra", não ajuda muito.
Como não sou especialista em biologia, geologia nem em paleontologia, não posso julgar com precisão o que constitui realmente novidade e o que é uma interpretação diferente para ideias mais ou menos aceitas. Mas, mesmo que demos um bom desconto para os aspectos em que a obra se pretende revolucionária, "A New History..." continua sendo uma leitura fascinante e informativa (ao menos para quem não é especialista).
Os autores, que são cientistas de primeira linha, defendem três teses principais. A primeira é a de que a história da vida na Terra foi muito mais conturbada e cheia de emoções do que querem os relatos tradicionais. Nossos ancestrais tiveram de enfrentar uma sucessão de catástrofes, que incluem o congelamento dos oceanos, envenenamento da atmosfera, queda de asteroides, que não contribuem muito para a narrativa darwiniana padrão de desenvolvimento gradual e cumulativo.
É até possível, eles especulam, que sejamos todos marcianos, já que, 4 bilhões de anos atrás, a química do planeta vermelho era mais favorável à vida do que a da Terra. Como nosso mundo é constantemente bombardeado por meteoritos marcianos, o transporte não seria um problema.
A segunda tese é a de que, embora valorizemos muito o carbono como elemento químico da vida, pelo menos três outras moléculas –oxigênio, gás carbônico e sulfeto de hidrogênio– foram essenciais para o surgimento da vida multicelular e são elas que ditam o futuro da biosfera.
A terceira e provavelmente a mais controversa é a de que a evolução se dá também no nível de ecossistemas, e não só de genes, indivíduos e espécies. A linha-dura dos biólogos darwinistas não deverá deixar barato.
É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.