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    Hélio Schwartsman

    Lúgubre ciência

    30/08/2015 02h00

    SÃO PAULO - Que crédito você daria a um meteorologista que errasse a maioria de seus prognósticos? Não muito, imagino. Por que então ainda damos ouvidos a economistas? Já ficou estatisticamente comprovado que eles são péssimos preditores de indicadores econômicos (Tetlock, 2006). Para que eles servem?

    Há uma diferença importante entre meteorologistas e economistas. Enquanto as condições meteorológicas são apenas fracamente afetadas por atividades humanas, as condições econômicas são em sua maior parte determinadas por ações de pessoas. Isso dá aos economistas um prêmio de consolação: se não são bons em prever o futuro, podem ao menos aconselhar agentes privados e governos a fazer o que é mais racional do ponto de vista econômico.

    Obviamente, economistas não precisam renunciar ao projeto de uma ciência que acerte predições. Os modelos de inflação, por exemplo, evoluíram bastante e já são úteis, enquanto os de câmbio continuam a humilhar seus autores. A rota mais modesta do aconselhamento, porém, parece por ora mais promissora.

    O problema é que, por décadas, economistas não apenas enfatizavam o caráter preditivo de sua lúgubre ciência como tinham por pressuposto a ideia —errada, como se pode aferir empiricamente— de que os agentes são sempre seres racionais que tentam maximizar seus lucros.

    Isso só começou a mudar a partir dos anos 60, com trabalhos de Amos Tversky, Daniel Kahneman e Richard Thaler que desembocaram na chamada economia comportamental. Ela não apenas reconhece que a racionalidade humana falha como procura descobrir quais são os erros mais comuns e remediá-los. A fascinante história dessa pequena revolução ainda não havia sido contada. A falha agora foi sanada com a publicação de "Misbehaving", em que Thaler traça sua autobiografia intelectual, com riqueza de detalhes e muito bom humor. Vale a leitura.

    helio@uol.com.br

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

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