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    Hélio Schwartsman

    Multidão de mulheres presas

    06/11/2015 02h00

    SÃO PAULO - Na onda do #AgoraÉQueSãoElas, meu lado feminista cede o espaço à antropóloga Debora Diniz, professora da UnB e autora de "Cadeia: Relatos sobre Mulheres".

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    "O Ministério da Justiça deu número grandioso ao que já sabíamos –houve um crescimento de 567% de mulheres presas nos últimos 15 anos. Vivemos em um país adorador de castigos, e a cadeia nos persegue. Falo no plural da autoridade, mas a inclusão não é verdadeira: elas são mulheres parecidas entre si e bem localizadas na estratificação social brasileira –pretas e pardas, pobres, pouca escola e trabalho precário. Chegam aos presídios por um tipo torto da lei, "tráfico de drogas".

    Dei constatação e diagnóstico para a multidão de mulheres no presídio. O principal crime é o de sobrevivência, pois é com a droga que se come, se cuida dos filhos ou se aproveita o frevo. Por que as mulheres viraram malfeitoras? A resposta fácil é a da compaixão pelo gênero: as presas conheceram a bandidagem pelos maridos, suas trajetórias são de dependência e paixão. Pode até ser esse o roteiro de algumas delas, mas não é a história da multidão. Muitas delas conheceram a droga, a arma ou mesmo a prisão ainda miúdas –era o irmão que enrolava a erva, o pai que só as visitava no saidão, a mãe que pagava as contas com um tráfico leve da pedra.

    Uma em cada quatro mulheres em regime fechado no presídio da capital do país viveu parte da adolescência em unidades socioeducativas de internação, um nome comprido para o que se conhece como cadeias para adolescentes. Aqui está o antecedente de vida que importa para entender quem é essa multidão em expansão: muito cedo, ainda meninas, saíram da escola e da casa, viveram na rua ou entre grades –se não foi aperfeiçoando-se no crime, ao menos com poucas chances de aprender outra forma de sobrevivência que não na ilegalidade da vida".

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

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