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    Hélio Schwartsman

    Sumiram com os cadáveres

    10/11/2015 02h00

    SÃO PAULO - O governo Geraldo Alckmin precisa discutir sua relação com a transparência. Primeiro foram os constrangedores episódios em que, sem apresentar razões plausíveis, impôs sigilo sobre dados da Sabesp, do Metrô e sobre informações financeiras da Polícia Militar. Teve de voltar atrás. Agora, descobrimos que a administração também altera estatísticas policiais sem informar claramente o público. Obviamente, é uma mudança que faz com que o governo fique melhor na foto.

    Como mostraram os repórteres Rogério Pagnan e Lucas Ferraz, desde abril a gestão tucana vem excluindo das estatísticas de homicídios dolosos as mortes provocadas por policiais militares em folga que supostamente agiram em legítima defesa. Com isso, saíram da lista de homicídios 102 óbitos, que passaram a ser contabilizados em separado, como decorrentes de intervenção policial.

    O efeito da exclusão não é pequeno. Pelo novo critério da Secretaria da Segurança Pública (SSP), a redução dos homicídios no Estado em 2015 (até setembro) foi de 13,2% contra igual período de 2014. Pelo padrão antigo, ela ficaria em 8,1%.

    Conceitualmente, penso que, como estatísticas não devem encerrar juízos morais, os assassinatos e as mortes decorrentes de intervenção policial deveriam, no cômputo final, ser somados. Um homicídio é, afinal, um homicídio, mas reconheço que autoridades devem ser livres para tentar aperfeiçoar a metodologia de suas estatísticas. É óbvio, porém, que precisam agir com total transparência. O IBGE, por exemplo, altera seus procedimentos, mas sempre avisa com antecedência e toma o cuidado de divulgar as séries históricas com e sem a mudança. Não a esconde sob um asterisco, como fez a SSP.

    Dados e estatísticas são o principal instrumento que a sociedade tem para descobrir o que está acontecendo à sua volta e promover mudanças. É assunto sério demais para ser manipulado ao bel-prazer de políticos.

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

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