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    Hélio Schwartsman

    A moral do terrorista

    18/11/2015 02h00

    SÃO PAULO - Thomas Hobbes, no séc. 17, já observara que até o mais poderoso dos homens é vulnerável à ação do mais insignificante. "Quanto à força corporal, o mais fraco tem força suficiente para matar o mais forte, quer por secreta maquinação, quer aliando-se com outros (...)".

    É dessa característica que o terrorismo se alimenta. Antes, porém, de condenar o igualitarismo de base da natureza, que torna até potências como os EUA e a França incapazes de proteger seus cidadãos, convém lembrar que é esse mesmo mecanismo que permite a indivíduos depor tiranias e combater forças de ocupação.

    Se ações que violam a lei vigente fossem sempre ilegítimas, teríamos de condenar todas as revoluções, incluindo a americana, e os atos da resistência francesa contra os nazistas. O problema não está tanto nos métodos utilizados, mas no valor da causa defendida. Não estamos diante de questões que possamos resolver por meio de formalismos jurídicos. Não há como escapar à tarefa bem mais difícil de avaliar o conteúdo moral das pretensões em jogo.

    Aqui as coisas se complicam. Como não dispomos de uma moral eterna, incondicionada e sem zonas cinzentas, as discussões se tornam perigosamente subjetivas. Do ponto de vista dos terroristas, suas ações são justificáveis à luz de uma teologia perversa, mas que não deixa de ter lógica interna. Se queremos denunciar essas ideias como contrárias à civilização, é preciso antes encontrar um critério universal que permita qualificar ações em termos de bem e mal. É o que a filosofia tenta há milênios, sem sucessos inequívocos.

    O mais perto que chegou, creio, é o utilitarismo, que nos manda minimizar o sofrimento e maximizar o bem-estar no que estes têm de mais próximo do biológico. À luz desses princípios, é sempre errado matar alguém para promover uma ideia. Quando esta é uma fantasia que beira a demência, como é o caso dos jihadistas, ao imoral soma-se o obsceno.

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

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