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    Hélio Schwartsman

    Corrida elemental

    06/01/2016 02h00

    SÃO PAULO - Quando pensamos em ciência e Guerra Fria, a ideia que vem à cabeça é a corrida espacial. Essa talvez tenha sido a batalha principal, mas não a única. Um teatro de operações particularmente interessante é o da tabela periódica, com disputas que se prolongaram para além do fim da URSS e reviravoltas dignas de romance policial.

    Um capítulo dessa história foi fechado no finalzinho de dezembro, quando a União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC) confirmou a descoberta dos elementos de número atômico 113, 115, 117 e 118, que completam o sétimo período da famosa tabela. Os louros da descoberta do 113 foram para os japoneses, e os dos demais para a colaboração, pasme, entre cientistas russos e americanos. Os grupos terão agora o direito de batizar e designar um símbolo para esses elementos.

    A corrida elemental teve início nos anos 40, quando os americanos reinavam soberanos. Descobriram e batizaram os elementos que vão do 95 ao 103. Daí que se explicam nomes inegavelmente filoamericanos, como amerício (95) e califórnio (98).

    Nos anos 60, porém, os russos montaram um excelente centro na cidade de Dubna e começaram a disputar em pé de igualdade com os americanos. Chegaram na frente com o 104 e o 105. O 106 deu empate. A coisa seguiu nesse ritmo até os anos 90, quando os alemães ocidentais entraram no jogo e foram deixando russos e americanos para trás.

    Os EUA não se deram por vencidos e tiraram dos alemães o cientista responsável por seu sucesso, o búlgaro Victor Ninov. Só que, descobriu-se, Ninov fraudava resultados. O baque para os americanos foi terrível e eles nunca se recuperaram inteiramente. Para continuar atuando na área tiveram de associar-se aos arquirrivais russos e hoje dependem de Dubna.

    O futuro pode ser ainda mais sombrio, já que as relações entre Washington e Moscou só pioram e agora os asiáticos estão na disputa.


    helio@uol.com.br

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

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