SÃO PAULO - Quando alguém apela a efeitos quânticos para explicar qualquer fenômeno em escala um pouco maior do que a de partículas subatômicas, são grandes as chances de que estejamos diante de um picareta "new age". O cientista político Alexander Wendt é uma notável exceção a esse princípio.
Seu mais recente livro, "Quantum Mind and Social Science" (mente quântica e ciências sociais), é uma obra séria que trata de ontologia sem recorrer a deuses. Recorre aos "quanta". Wendt parte do pressuposto de que o problema mente-corpo não será resolvido no paradigma materialista clássico. A matéria, compreendida segundo os cânones da física newtoniana, jamais explicará a consciência e, por extensão, as ciências sociais. Para Wendt, que passou a última década se embrenhando na física, muitas das dificuldades desapareceriam se aceitássemos que efeitos quânticos como o emaranhamento e a superposição podem ocorrer no interior do cérebro, respondendo por algumas de nossas funções mentais.
Questões para as quais ainda não desenvolvemos boas explicações, como o livre-arbítrio, os caprichos da Vontade, a linguagem e a, vá lá, ontologia social, deixariam de ser um problema. Elas se tornariam expressões totalmente esperadas de um colapso de onda no interior dos neurônios.
Wendt não esconde os problemas de sua proposta. O mais óbvio é que não observamos efeitos quânticos em objetos macroscópicos. Pior, uma das implicações de versões fortes de sua tese é o pampsiquismo, isto é, a noção de que a própria matéria carrega uma espécie de consciência. O autor admite que essa é uma ideia bizarra, mas alega que não é mais extravagante do que os múltiplos universos relativamente bem aceitos por filósofos e físicos que levam o materialismo às últimas consequências.
"Quantum Mind" não chegou a me convencer, mas fez pensar e questionar ideias às quais já me acostumara. É para isso que livros servem.
É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.