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    Hélio Schwartsman

    MAD

    28/02/2016 02h00

    SÃO PAULO - MAD é o acrônimo inglês para "destruição mútua assegurada", a doutrina militar segundo a qual o ataque maciço de uma potência nuclear contra outra leva à destruição de ambas, pois o país que recebe a primeira carga ainda conserva capacidade de revidar. Se os dois lados agem racionalmente, MAD funciona como um elemento de dissuasão, que resulta numa situação de equilíbrio. Foi o que impediu os EUA e a União Soviética de provocarem um holocausto atômico durante a Guerra Fria.

    Há motivos para suspeitar que as duas principais forças políticas do Brasil tenham rompido seu equilíbrio de Nash e estejam se engajando numa batalha MAD, da qual não se recuperarão. Quem lançou o primeiro ataque, ainda tímido, foi o PT fazendo uma campanha eleitoral que foi considerada pouco ética e extremamente mentirosa (mesmo para os padrões da política brasileira).

    Os tucanos deram o troco fazendo oposição sistemática e impensada ao governo da presidente Dilma Rousseff. Não hesitaram nem mesmo em trair algumas de suas bandeiras históricas. Rapidamente, a refrega vazou para outros canais, que incluem, é claro, os militantes em redes sociais mas também os exércitos de policiais, promotores e magistrados simpáticos a um ou outro lado.

    Barreiras que eram normalmente respeitadas por todos começaram a ser quebradas. As investigações passaram a mirar também familiares dos políticos envolvidos. Amantes foram desenterradas. Até mesmo o território pouco confortável dos pagamentos não contabilizados de campanhas foi devassado.

    Ao contrário do que ocorre com bombas nucleares, penso que um pouco de MAD pode ser saudável para a política brasileira e talvez resulte numa destruição criadora. Só não podemos perder a noção de proporção, distinguindo crimes reais de meras fofocas e hierarquizando os eventuais delitos por sua gravidade.

    helio@uol.com.br

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

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