SÃO PAULO - O que há em comum entre deputados brasileiros às vésperas de uma votação de impeachment e anchovas nadando no mar? O comportamento de ambos tem origem naquilo que o biólogo evolucionista inglês W.D. Hamilton, num clássico "paper" de 1971, chamou de "manada egoísta".
Biólogos costumavam explicar cardumes, rebanhos, passaredos e outros comportamentos gregários em termos de benefício mútuo, algo como o "juntos somos mais fortes". Hamilton, porém, retomando ideias de Francis Galton, o primo de Darwin que gostava de matemática, propôs uma teoria alternativa, que evocava apenas o interesse individual.
Animais não gostam de virar refeição. Um bom jeito de evitar o predador é pôr-se ao lado de outro exemplar da própria espécie. A chance de ser apanhado cai à metade. Se mais bichos se juntarem, o risco diminui mais. A posição também é relevante. Quem ocupa o centro da multidão está mais seguro do que aqueles que se encontram nas margens.
A teoria de Hamilton é bacana porque não apenas oferece uma hipótese mais plausível para os comportamentos de bando como ainda permite explicar matematicamente movimentações de enxames. A manada aparece como uma unidade que se mexe em conjunto, mas essa é uma função que emerge do comportamento não coordenado de indivíduos atuando egoisticamente.
É justamente aí que entram nossos deputados. Cada um deles está calculando como poderá se dar bem. A decisão se dá entre ficar com Dilma e ganhar cargos ou ser o último a abandoná-la e assim perder pontos num eventual próximo governo. Em um dado momento crítico (a guinada do cardume de anchovas), todos correrão para tentar ocupar a posição mais vantajosa e o bando se moverá em conjunto, seja para salvar a presidente, seja para fritá-la. O placar dificilmente será apertado, já que todos buscarão o centro da manada.
É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.