São Paulo - O mais recente título do filósofo conservador britânico Roger Scruton, "Fools, Frauds and Firebrands: Thinkers of the New Left" (tolos, fraudes e incitadores: pensadores da Nova Esquerda), é um livro intrigante.
Para começo de conversa, é difícil precisar se se trata de uma obra nova ou da atualização de uma antiga, agora embalada em tons de vingança. A primeira versão do livro, lançada em 1985 com o título "Pensadores da Nova Esquerda", tornou-se um pesadelo para Scruton. A obra, que atacava impiedosamente vacas sagradas da esquerda como Jürgen Habermas, György Lukács, Michel Foucault, Antonio Gramsci, Jean-Paul Sartre, foi impiedosamente atacada pela crítica. Sob a ameaça de boicote de autores mais rentáveis do que Scruton, a editora, a Longman, recolheu os exemplares, que terminaram em caixotes no jardim do filósofo.
Agora, 30 anos depois, Scruton, com mais prestígio e num mundo mais aberto, decidiu reescrever a obra. Mudou o título e trocou alguns dos autores analisados. Entraram no livro Eric Hobsbawm, Jacques Lacan, Gilles Deleuze, Edward Said, Alan Badiou e Slavoj Zizek.
O texto é divertido de ler. Scruton é muito inteligente, espirituoso e não tem papas na língua. Não hesita, por exemplo, em chamar uma certa ala do pensamento francês de "máquina de asneiras" ("nonsense machine"). Frequentemente aponta problemas graves na linha de raciocínio de seus desafetos. O problema é que Scruton não é justo com eles.
Embora de vez em quando arrisque um elogio ou outro, em geral pelo estilo ou pela erudição, Scruton falha na aplicação do princípio da caridade. Ele abusa de citações seletivas e descontextualizadas que, embora o ajudem a tentar provar suas teses, não são capazes de oferecer um retrato honesto do pensamento dos autores. Vale a leitura, se você conseguir manter-se em guarda contra os exageros de Scruton.
É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.