SÃO PAULO - Alguns meses atrás, alertando para a possibilidade de ter de engolir minhas palavras, prognostiquei que a ala sensata dos eleitores republicanos saberia encontrar um candidato que não Donald Trump para concorrer à Presidência dos Estados Unidos no pleito de novembro.
Diante dos fatos, sou obrigado a engolir minhas palavras. Em minha defesa, posso apenas alegar que errei em boa companhia, isto é, com grande parte dos colunistas e cientistas políticos norte-americanos, que trataram a pré-candidatura de Trump mais como uma piada do que como algo com chances de materializar-se.
Bem, o chiste não apenas virou realidade como já se vislumbra o risco de Trump vencer Hillary Clinton. A candidata democrata ainda é a favorita, mas já começam a aparecer pesquisas que colocam o republicano à sua frente. A complexidade do sistema eleitoral americano amplifica as incertezas.
No pior cenário, que é o de Trump efetivamente vencer, qual seria o tamanho do pesadelo? Não há dúvida de que é relativamente fácil para qualquer presidente produzir grandes estragos, mas será que, no poder, Trump conseguiria mesmo construir um muro na fronteira com o México e proibir a entrada de muçulmanos nos EUA, entre várias outras sandices que já prometeu?
Não creio que seria tão fácil. O que caracteriza as democracias mais maduras é que seus dirigentes têm relativamente menos poder que os líderes de Estados menos desenvolvidos. Contribuem para isso não apenas o sistema de "checks and balances" (freios e contrapesos), que opera no nível institucional, mas também um jogo mais sutil de pressões políticas e econômicas. E isso vale tanto para o bem como para o mal. Um bom exemplo é o de Obama, que não conseguiu fechar a prisão de Guantánamo como prometera. De algum modo, o sujeito, quando chega ao poder, acaba sequestrado pelo cargo.
É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.