SÃO PAULO - O Poder que brilha em tempos de Lava Jato é o Judiciário. É verdade que a concorrência facilita. Executivo e Legislativo andam metidos em tantas e tamanhas falcatruas que o simples fato de juízes e procuradores não frequentarem tão assiduamente as páginas policiais na condição de investigados já lhes dá larga vantagem.
Acrescente-se a isso a constatação de que o Judiciário vem, de forma inédita, condenando alguns figurões da política e de empreiteiras por participação em esquemas de corrupção e temos uma explicação verossímil para o sucesso de personagens como Joaquim Barbosa, Sergio Moro e Deltan Dallagnol. Se quisessem, seriam facilmente eleitos deputados e talvez até senadores por qualquer Estado que disputassem.
Como a maioria dos brasileiros, vejo com bons olhos a mudança de paradigma representada primeiro pelo mensalão e depois pela Lava Jato, mas não faço uma avaliação tão benigna do Judiciário. Ao contrário, penso que ele, pelo que não faz, ou seja, pela ineficiência, é um dos responsáveis pela crise que vivemos.
Se nossa Justiça não permitisse que políticos passassem anos respondendo a processos e inquéritos sem uma definição sobre sua culpabilidade, não teríamos casos como os de Eduardo Cunha, Renan Calheiros e tantos outros que se tornaram uma das principais fontes da instabilidade política que vivemos.
E não há nenhuma desculpa para a baixa eficiência de nossa Justiça. Ao contrário, em termos comparativos, temos um dos Judiciários mais caros do mundo. Trabalho de Luciano Da Ros, da UFRGS, publicado em julho passado, mostrou que a Justiça brasileira (sem contar Ministérios Públicos e Defensorias) consome 1,3% do PIB, o que representa 6,5 vezes mais do que a França (0,2%) ou 4 vezes mais que a Alemanha (0,32%).
Não basta Lava Jato. Precisamos é fazer com que a Justiça brasileira valha o que pagamos.
É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.