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    Hélio Schwartsman

    Controle racial

    05/08/2016 02h00

    Rogério Padula-24.jun/Futura Press/Folhapress
    SÃO PAULO,SP,24.06.2016:ROTESTO ESTUDANTES E COLETIVOS NEGROS USP - Estudantes da USP de e coletivos negros da USP, realizam na noite desta sexta-feira (24), ato reivindicando cotas no vestibular FUVEST, em São Paulo (SP). (Foto: Rogério Padula/Futura Press/Folhapress) *** PARCEIRO FOLHAPRESS - FOTO COM CUSTO EXTRA E CRÉDITOS OBRIGATÓRIOS ***
    Estudantes da USP realizam ato reivindicando cotas no vestibular da universidade paulista

    SÃO PAULO - É bem atoleimada a decisão do governo Temer de criar comissões para verificar se as pessoas que se apresentam como negras, pardas ou índias para beneficiar-se de cotas em concursos públicos estão dizendo a "verdade".

    Não sou paranoico a ponto de acreditar que o presidente interino está recriando o "apartheid" ou reinventando o nazismo, mas é preciso reconhecer que, pelo menos no plano estético, não fica bem colocar um comitê estatal para avaliar as credenciais raciais de um indivíduo. Mas não estamos aqui lidando só com uma questão de bom ou mau gosto.

    Num debate que combina considerações científicas com preferências políticas, pesquisadores se digladiam para determinar se existem ou não raças humanas.

    De um lado, estão nomes como Richard Lewontin e Stephen J. Gould, para os quais a noção de raça não corresponde a nada na biologia. São meras construções sociais das quais não podemos esperar nada de bom.

    De outro, temos gente como Anthony Edwards e Richard Dawkins, que sustentam que categorias raciais têm, sim, algum valor informativo no nível biológico, como se pode constatar pela variação da prevalência de doenças genéticas em diferentes grupos étnicos. Para eles, vieses políticos não deveriam impedir cientistas de estudar a fundo essas questões.

    Seja qual for a conclusão do debate, já sabemos o suficiente para afirmar que, sejam as raças algo biologicamente relevante ou só uma convenção social a ser extirpada, elas se apresentam como um contínuo, não como categorias discretas.

    Isso significa que, a menos que fabriquemos uma definição oficial de raça —o que seria uma péssima ideia—, não há critério objetivo para definir qual fenótipo específico pertence a qual grupo. A moral da história é que, se insistirmos nas cotas "raciais", o único caminho sensato é a autodeclaração. E ela, por definição, não admite controle externo.

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

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