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    Hélio Schwartsman

    Candidatos sem passado

    09/08/2016 02h00

    Pedro Ladeira/Folhapress
    Brasilia, DF, Brasil, 25/05/2016: Presidente interino Michel Temer acompanhado do ministro Jose Serra (MRE) durante cerimonia de apresentacao de credenciais de embaixadores, no palacio do planalto. Foto: Pedro Ladeira/Folhapress
    O ministro das Relações Exteriores, José Serra, e o presidente interino, Michel Temer

    SÃO PAULO - Entre a esgrima e o decatlo, a Lava Jato deu neste fim de semana mostras de que ainda vai produzir muita dor de cabeça entre políticos. A Folha noticiou que o ministro José Serra (Relações Exteriores) deverá ser citado por executivos da Odebrecht como beneficiário de caixa dois. A revista "Veja" trouxe material que indica que também serão implicados o próprio presidente interino, Michel Temer, e o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil).

    O primeiro ponto a observar é que, a confirmar-se a explosiva delação, fica bastante enfraquecido o discurso do PT de que as investigações não passavam de uma trama das elites para prejudicar o partido. Minha impressão é a de que o viés da operação é outro: ela mira nos mais poderosos. Até alguns meses atrás o alvo mais valioso era o PT; agora passou a ser a coalizão que sustenta Temer.

    A exemplo de jornalistas, policiais e procuradores sentem prazer quando seus esforços resultam em casos de grande repercussão. Sempre que conseguem abalar os alicerces da República, experimentam sensações de "fazer justiça" e "participar de algo importante" que são tão intensas que podem causar dependência. Essa, porém, é uma deformação profissional bem-vinda, já que tende a tornar mais rigorosos os controles sobre os governantes. É claro que, para o sistema funcionar direito, é preciso que os juízes saibam conter os eventuais excessos dos investigadores.

    O segundo ponto diz respeito ao ambiente político. Pelo menos até que as grandes empreiteiras concluam suas delações e o MP decida o que fazer com elas, viveremos grandes incertezas. Esse é, me parece, o melhor argumento contra a realização de diretas já. Nenhum dos grandes partidos está pronto para a eleição. Não sabemos nem sequer quem sobreviverá aos próximos lances. Pelo andar da carruagem, eu diria até que o próximo pleito se dará entre candidatos sem passado, o que pode ser muito bom ou muito ruim.

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

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