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    Hélio Schwartsman

    Véu da prepotência

    17/08/2016 02h00

    Fotomontagem/Folha Online
    Texto: An Indonesian Muslim woman browsers for accessories at a shopping mall in Jakarta. Forget the stereotype image of Muslim women draped from head to toe in all-enveloping robes, or girls shrouded in modest white veils. In Indonesia, the world's most populous Muslim nation, the Islamic Hijab is hip, particularly among the rich and upwardly mobile. Picture taken November 17, 2003. REUTERS/Dadang Tri/FEATURE/INDONESIA-FASHION // Texto: A marroquina Faiza Silmi caminha pelas ruas de Le Mesnil-Saint-Denis (França) trajando o niqab. *** Faiza Silmi, a 32-year-old Moroccan, walks in a street of Le Mesnil-Saint-Denis, 38 kilometers (24 miles) southwest of Paris, Tuesday, Jan. 12, 2010. Silmi has taken her plight to the European Court of Human Rights. But her fate could be decided before the case is heard if France passes a law making such dress taboo, which appears increasingly likely. Full-body robes are a rare sight in the streets of France, although France is home to an estimated 5 million Muslims, the largest such population in western Europe. (AP Photo/Christophe Ena) // Texto: Iranian women dressed in the traditional "chador" and a simple head-covering scarf walk along a street in Tehran June 26, 2005. Iran's president-elect Mahmoud Ahmadinejad said on Sunday his government would be one of "peace and moderation", while insisting his country would continue to develop nuclear technology. REUTERS/Morteza Nikoubazl // Texto: RNPS IMAGES OF THE YEAR 2009 - A burqa-clad Afghan woman walks in an old bazaar in Kabul March 4, 2009. Presidential polls in Afghanistan cannot be held next month as demanded by President Hamid Karzai, the elections commission said on Wednesday, with Aug. 20 to remain the polling day as originally scheduled. REUTERS/Ahmad Masood (AFGHANISTAN)
    Hijab (à esq.), niqb (à dir., acima) e burca (à dir., abaixo), variações do véu islâmico

    SÃO PAULO - Prefeitos de cidades litorâneas francesas estão proibindo o uso do burkini, um traje de banho que cobre praticamente todo o corpo e é bastante utilizado por muçulmanas mais observantes. Já são pelo menos três os alcaides que adotaram essa medida nos últimos dias.

    A França é reincidente nessa matéria. Uma lei nacional já banira, em 2004, o uso de símbolos religiosos ostensivos em escolas públicas. Embora a norma não o explicite, o alvo da proibição eram os véus muçulmanos. Em 2010, uma nova lei vetou o uso, em todos os espaços públicos, de qualquer adereço que esconda o rosto da pessoa. Camuflada sob a preocupação com a segurança, estava a proscrição da burca e do niqab, trajes adotados pelas muçulmanas que seguem orientações mais rígidas.

    Não tenho nenhuma simpatia por religiões em geral, muito menos pelas que oprimem as mulheres. Diria até que sou fã do zelo com o qual os franceses cultivam a laicidade do Estado, mas sua posição em relação os véus me parece despropositada.

    Se é verdade que muitas mulheres se cobrem por imposição de seus pais, maridos e de uma cultura no geral misógina, é forçoso reconhecer que existem ao menos alguns casos em que elas o fazem de livre e espontânea vontade. Não são poucas as muçulmanas criadas na França, detentoras de títulos universitários, expostas ao liberalismo ocidental que optam por usar o véu. Proibi-las de fazê-lo lembra a posição dos conservadores que, nos anos 60, queriam banir a minissaia e o biquíni.

    O que está em questão é a própria função do Estado. Se você acha que ele tem a missão de formar o melhor cidadão possível —o que quer que isso signifique—, pode simpatizar com a posição dos franceses. Se, por outro lado, pensa que o poder público deve limitar-se a criar um ambiente em que os cidadãos possam perseguir a vida que preferirem, deve, como eu, rejeitar o veto ao burkini.

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

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