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    Hélio Schwartsman

    Tempestade em copo d´água

    01/10/2016 02h00

    Cris Faga/Fox Press Photo/Folhapress
    Estudantes protestam no viaduto do Chá, no centro de SP, contra o projeto de reforma do ensino médio apresentado pelo governo Temer
    Estudantes protestam em SP contra o projeto de reforma do ensino médio apresentado pelo governo

    SÃO PAULO - É exagerada a celeuma que estão fazendo com a suposta retirada da educação física e das aulas de artes do ensino médio.

    Em primeiro lugar, mesmo que essas disciplinas venham de fato a deixar de ser obrigatórias, isso está bem longe de significar uma supressão. Pela proposta, que ainda poderá ser modificada pelos parlamentares e pelo sempre volúvel Michel Temer, só português, matemática e inglês gozariam do status de obrigatórias.

    Seria só a partir da segunda metade do ciclo médio (o segundo semestre do segundo ano) que o aluno poderia compor de forma mais livre o seu currículo. Como não dá para ocupar toda a grade só com as três obrigatórias, ele inevitavelmente teria de preenchê-la com outras disciplinas. Aqui, mesmo sem bola de cristal eu arriscaria afirmar que educação física e artes permaneceriam entre as favoritas. A menos que a natureza humana tenha mudado muito de meus tempos de escola para cá, estudantes têm predileção por cursos que não imponham provas nem trabalhos. Se, além disso, permitem aos adolescentes movimentar-se e divertir-se, tornam-se quase irresistíveis.

    No mérito, é bastante consensual a ideia de que é necessário flexibilizar o ensino médio. O problema é que ainda não surgiu um gênio da matemática que explique como fazê-lo mantendo as 13 disciplinas hoje obrigatórias nessa condição.

    Também me parece despropositada a grita em torno da possibilidade de o aluno escolher parte das cadeiras que cursará. Não faz muito sentido dizer que ele não está pronto para decidir sua área de concentração, se lembrarmos que, em menos de dois anos, vai ter de optar pelo curso universitário que, em princípio, definirá todo o seu futuro profissional.

    É verdade que o governo Temer colhe o que semeou quando resolveu propor uma reforma dessa natureza por medida provisória. Fica parecendo mesmo que quer impor seus planos goela abaixo da sociedade.

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

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