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    Hélio Schwartsman

    O pós-Prozac

    29/10/2016 02h00

    Matt Dtrich/The Indianapolis Star/Associated Press
    ORG XMIT: 501301_1.tif O Prozac, cujo princípio ativo é a fluoxetina
    O Prozac, cujo princípio ativo é a fluoxetina

    SÃO PAULO - A era Prozac pode estar chegando ao fim. E é bem possível que o substituto dos antidepressivos que se popularizaram a partir dos anos 80 venha a ser a quetamina, um anestésico para cavalos que provoca delírios e é muito apreciado como droga recreativa por frequentadores de casas noturnas.

    A chegada dos antidepressivos da classe dos inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS) revolucionou se não a psiquiatria, ao menos o mercado de fármacos. Logo os ISRS e seus primos que buscam modular os efeitos das monoaminas (a serotonina é uma monoamina) se tornaram "blockbusters".

    Nos EUA, eles já são a categoria de droga mais vendida, com 270 milhões de prescrições por ano, que totalizaram US$ 12 bilhões em vendas em 2008. O faturamento caiu depois porque as patentes foram vencendo e genéricos mais baratos ganharam fatias cada vez maiores do mercado.

    O sucesso de vendas não resolveu as dúvidas sobre seus mecanismos de ação. É certo que funcionam, mas algumas metanálises sugeriam que o efeito poderia não ser maior do que o de um placebo ativo. Outro mistério é o fato de que, apesar de as mudanças que provocam na química do cérebro serem quase instantâneas, o efeito antidepressivo dessas drogas leva semanas para aparecer.

    A revolução agora pode ser também na psiquiatria, já que a ação antidepressiva da quetamina surge minutos após a administração da droga —e pode durar semanas. Tudo é um pouco de chute, já que, como a quetamina não está sob patente, ninguém bancou um estudo para aferir sua eficácia. De todo modo, seu uso "off-label" como antidepressivo virou febre nos EUA, e companhias farmacêuticas já tentam produzir a partir dela uma droga patenteável e com menos efeitos colaterais. A primeira delas já é comercializada como anestésico (escetamina) e se encontra em fase 3 de um estudo que poderá liberá-la como antidepressivo.

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

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