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    Hélio Schwartsman

    Tiro no pé

    16/11/2016 02h00

    Mandel Ngan/AFP
    (FILES) This file photo taken on November 9, 2016 shows President-elect Donald Trump speaking during election night at the New York Hilton Midtown in New York. Donald Trump will keep his vow to deport millions of undocumented migrants from the United States, he said in an interview to be broadcast November 13, 2016, saying as many as three million could be removed after he takes office. "What we are going to do is get the people that are criminal and have criminal records, gang members, drug dealers, where a lot of these people, probably two million, it could be even three million, we are getting them out of our country or we are going to incarcerate," Trump said in an excerpt released ahead of broadcast by CBS's 60 Minutes program. / AFP PHOTO / MANDEL NGAN
    O presidente eleito Donal Trump fala no dia seguinte à sua vitória eleitoral

    SÃO PAULO - Para os apreciadores das ironias da história, a eleição de Donald Trump é um prato cheio. Ao que tudo indica, a rejeição à globalização e à imigração foram decisivas para a vitória do magnata. O curioso aqui é que os EUA são um dos países que mais se beneficiaram da globalização e da imigração.

    A internacionalização da economia foi positiva para a maior parte da população americana, já que um de seus principais efeitos, nem sempre apreciado, é a contínua redução dos preços dos produtos consumidos.

    É relativamente fácil para um trabalhador do "rust belt" dos EUA constatar que sua renda se estagnou ou até caiu nas últimas décadas. Mais difícil é perceber que, apesar disso, ele tem hoje acesso a muito mais bens, que ainda ganharam em qualidade, do que tinha no passado. A maior parte da prosperidade gerada pelo capitalismo não vem na forma de maiores salários, mas do barateamento dos itens de consumo.

    É claro que esse processo é caótico e não afeta a todos da mesma forma. O operário que ficou sem emprego porque a fábrica em que trabalhava transferiu suas atividades para a China ficou objetivamente pior.

    A imigração também tem sido no geral mais benéfica do que deletéria aos EUA. Uma longa série de estudos mostra que o fluxo de trabalhadores para os EUA tem ajudado o país a ampliar sua produtividade e a manter-se como uma potência em inovações. A chegada de estrangeiros também vem evitando que a América enfrente a armadilha demográfica da redução populacional em que se enroscou a Europa.
    Mas, de novo, a distribuição dos efeitos é bastante desigual. Trabalhadores de baixa qualificação, especialmente os jovens e os imigrantes mais antigos, tendem a ter seus salários comprimidos pela concorrência dos novos imigrantes.

    Se Trump efetivamente cumprir as promessas que fez, poderá estar dando um tiro no pé dos EUA.

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

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