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    Hélio Schwartsman

    As palavras e as coisas

    21/12/2016 02h00

    Eduardo Anizelli/Folhapress
    SÃO PAULO, SP, 11.10.2016: COMÉRCIO-ILEGAL - Vendedores ambulantes vendem produtos entre os carros no sentido Ayrton Senna da marginal Tietê, altura da ponte do Piqueri, na zona norte de São Paulo. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress)
    Tráfego na marginal Tietê, na zona norte de São Paulo

    SÃO PAULO - Se alguns políticos já entraram na era da pós-verdade, sendo capazes de criar para si universos paralelos imunes a evidências que contradigam suas ideias, boa parte das pessoas comuns ainda vive sob o paradigma clássico e fica brava quando candidatos eleitos descumprem suas promessas.

    É fato que, nessa matéria, o mundo não é igualitário. Alguns políticos parecem ter licença especial para dizer qualquer coisa e não serem cobrados por isso. Donald Trump é o caso mais evidente. Lula também contava com uma tolerância que não é dada a qualquer dirigente. Já Dilma pagou caro por seu estelionato eleitoral.

    De todo modo, Trumps e Lulas parecem ser exceções. Assim, políticos que ainda não perderam inteiramente o contato com o mundo circundante se desdobram para tentar cumprir suas promessas, mesmo que às vezes recorrendo à contabilidade criativa e a outros truques discutíveis.

    O prefeito eleito de São Paulo, João Doria, é um bom exemplo. No calor da campanha ele fez promessas das quais agora provavelmente se arrepende. A mais "pop" foi a de reverter a redução da velocidade máxima nas marginais. Bastou, porém, que conversasse com especialistas para descobrir que o limite mais baixo é uma medida importante, que não apenas salva vidas como ainda melhora a fluidez do tráfego.

    Doria tenta resolver o dilema mantendo a velocidade menor só na faixa da direita das pistas locais, onde se concentram os acidentes. Mas é uma aposta arriscada que ainda cria problemas para a fiscalização.

    Mais complicado é o compromisso de não aumentar a tarifa de ônibus. Aqui, o impacto de mantê-lo fica na casa dos R$ 3 bilhões anuais. Pior, não dá para recorrer a nenhum sortilégio hermenêutico. Ou a tarifa aumenta, ou não aumenta.

    Minha sugestão é que, enquanto a era da pós-verdade não for oficializada, políticos estudem um pouco os assuntos antes de fazer promessas.

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

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