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    Hélio Schwartsman

    Bebês não se aposentam

    08/03/2017 02h00

    Alan Marques/Folhapress
    Presidente Michel Temer se reúne com integrantes da comissão da reforma da Previdência, em Brasília
    Presidente Michel Temer se reúne com integrantes da comissão da reforma da Previdência, em Brasília

    SÃO PAULO - Um argumento popular contra a adoção da idade mínima de 65 na reforma da Previdência é o da expectativa de vida.

    O sindicalista Ricardo Patah o expôs com maestria em texto publicado no sábado (4): "Embora a expectativa de vida dos brasileiros seja de 75 anos, na média, segundo o IBGE, os Estados do Nordeste —especialmente Maranhão, Piauí e Alagoas— ficam abaixo disso, por volta dos 68 anos [na verdade são 71 anos, mas deixemos a imprecisão de lado]. Ora, se for implantada a idade mínima de 65 anos, ninguém irá se aposentar nessa região. Morrerão todos no batente —o que é, no mínimo, uma crueldade com os trabalhadores".

    O argumento é sedutor, mas não parece atuarialmente correto. Quando falamos de Previdência, não faz sentido usar a expectativa de vida ao nascer. Bebês não se aposentam. O certo é pegar as tábuas de mortalidade, que revelam a expectativa dos anos que restam de vida para todas as faixas etárias. E os dados do IBGE de 2015 mostram que o brasileiro (ambos os sexos) que chega aos 65 anos pode esperar viver mais 18,4 anos e alcançar a provecta idade de 83,4 anos.

    Diferenças regionais persistem, mas atenuadas. O pior Estado aqui é Rondônia, com 80,8 anos, e o melhor, Espírito Santo, com 85 anos.

    Patah não é a única vítima das sutilezas em torno do conceito de esperança de vida ao nascer. Em, 1940, a expectativa de vida do brasileiro era de 45,5 anos. Mas é um erro imaginar que encontrar velhos era raridade.

    A razão para isso é que são os óbitos infantis que jogam a expectativa de vida para baixo. O inverso também é verdadeiro. O grosso do avanço que obtivemos nas últimas décadas pode ser creditada a duas intervenções fundamentais: saneamento básico e vacinações, que fizeram a mortalidade infantil despencar dos 147 por mil em 1940 para 13,8 hoje.

    Não precisamos complicar mais a discussão da Previdência introduzindo nela a mortalidade infantil.

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

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