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    Hélio Schwartsman

    Lula candidato

    18/03/2017 02h00

    Alice Vergueiro-15.mar.2017/Folhapress
    O ex-presidente Lula sobe em carro de som e discursa em ato contra reforma da Previdência, na av. Paulista (região central de SP)
    O ex-presidente Lula discursa em ato contra a reforma da Previdência, na av. Paulista, centro de SP

    SÃO PAULO - Para Luiz Inácio Lula da Silva, faz mesmo todo o sentido sair como candidato a presidente no pleito de 2018.

    A vantagem mais óbvia é que Lula terá um discurso para contrapor às acusações que enfrenta na Justiça. Poderá dizer que os processos não passam de uma tentativa de afastá-lo das eleições, tentando assim transformar a discussão jurídica numa disputa política. E, se ele for condenado em segunda instância antes do pleito, hipótese em que não poderia concorrer e correria até o risco de ser preso, sempre poderá atribuir o desfecho à contenda eleitoral e não a seu comportamento ético.

    Para o PT também existem benefícios de curto prazo. Em primeiro lugar, ao sair com Lula, diminuem as chances de o partido sofrer uma derrota acachapante nas urnas, semelhante à que ocorreu no último pleito municipal. A união das tendências em torno da candidatura do ex-presidente também evita que o partido rache no que provavelmente é o momento mais difícil de sua história.

    Receio, porém, que no médio e no longo prazo, seria mais vantajoso para o PT e para a própria democracia brasileira que a agremiação não ficasse estacionada no passado, mas conseguisse renovar-se, para o que é fundamental que ela passe por um processo de autocrítica que precisa abarcar tanto o aspecto ético —mesmo que Lula seja inocentado, está claro que várias lideranças "se lambuzaram", para usar a expressão de um petista ilustre— como o programático —um bom pedaço da crise que enfrentamos pode ser atribuído a uma visão equivocada do partido sobre o funcionamento da economia. E será muito difícil fazer essa autocrítica enquanto Lula se mantiver na posição de esteio da legenda.

    Toda democracia precisa de um partido de massas mais à esquerda. Até aqui, foi o PT quem desempenhou este papel de forma inconteste. Se um PT renovado não ocupar este espaço, outra agremiação o fará.

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

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