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    Hélio Schwartsman

    E o mundo não acabou

    14/04/2017 02h00

    Fotomontagem
    BRASÍLIA, DF, 12.09.2016: CARMEN-LÚCIA - O ex-senador e ex-presidente José Sarney na cerimônia de posse da ministra Carmen Lúcia na presidência do STF. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)///BRASÍLIA, DF, BRASIL, 30.08.2016. Senador Fernando Collor discursa durante a Sessão do Senado Federal para o julgamento do Impeachment da presidente da República, Dilma Rousseff. (FOTO Alan Marques/ Folhapress) PODER///SÃO PAULO, SP, 20.09.2016: FERNANDO-HENRIQUE - Entrevista com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. (Foto: Marcus Leoni/Folhapress)///(170324) -- SAO PAULO, marzo 24, 2017 (Xinhua) -- El expresidente de Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (d), participa durante el evento llamado "Lo que Lava Jato ha hecho por Brasil", en Sao Paulo, Brasil, el 24 de marzo de 2017. "Lava Jato" es el nombre dado a la investigación de corrupción más grande centrada sobre la compañía estatal Petrobras, en la que Lula ha sido acusado, de acuerdo con información de la prensa local. (Xinhua/Rahel Patrasso) (rp) (jg) (fnc)///PORTO ALEGRE, RS, 03.04.2017: DILMA-ROUSSEFF - A ex-presidente Dilma Rousseff concede entrevista à Folha, em sua casa em Porto Alegre, onde fala sobre as delações de Marcelo Odebrecht e do processo de cassação de sua chapa. (Foto: Marlene Bergamo/Folhapress)
    Os ex-presidentes Sarney, Fernando Collor, FHC, Lula e Dilma, citados na delação da Odebrecht

    SÃO PAULO - Veio a delação do fim do mundo... e o mundo continua existindo. Como humanos, temos a tendência de superdimensionar a crise presente. Tal comportamento tem valor adaptativo, especialmente no passado darwiniano, no qual a resposta certa à maioria das ameaças era "saia correndo daí". O preço a pagar por essa arquitetura cerebral que tanto beneficiou nossa espécie é que nossas avaliações iniciais pendem para o pessimismo.

    Não se trata, é claro, de diminuir a gravidade e o alcance das denúncias feitas pelo pessoal da Odebrecht. Os números falam por si só. O STF autorizou a abertura de inquérito contra oito ministros do governo Temer (no total são 28), 24 senadores (de 81) e 39 deputados federais (de 513), incluindo os comandantes da duas Casas.

    Não penso, porém, que estejamos prestes a assistir ao fim da política como a conhecemos —o que tem implicações para o bem e para o mal.

    Cabe aqui uma analogia com o câncer. Se você recebe a notícia de que vai morrer em um mês, muda radicalmente sua vida. É muito provável que largue o emprego e abandone todas as tarefas que considera pouco significativas para dedicar-se ao que realmente faz sentido para você.

    Se, porém, o médico vem com um prognóstico menos sombrio e lhe dê três ou quatro anos, as mudanças no estilo de vida tendem a ser menos radicais. É claro que algo mudará, mas é grande a chance de que você continue trabalhando e tocando o dia a dia mais ou menos como antes.

    Ora, a incapacidade do STF de processar esse tsunami de casos faz com que estejamos diante de um cenário que lembra muito mais o da doença crônica do que o da morte iminente. O mais provável é que o Congresso logo retome as discussões das reformas e que os parlamentares mais do que nunca trabalhem por sua reeleição. Conservar o mandato e assim garantir o foro privilegiado é a quimioterapia que poderá mantê-los vivos por mais tempo.

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

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