• Colunistas

    Wednesday, 01-May-2024 13:55:48 -03
    Hélio Schwartsman

    Em busca do candidato perdido

    03/05/2017 02h00

    Alice Vergueiro/Folhapress
    O ex-presidente Lula sobe em carro de som e discursa em ato contra reforma da Previdência, na av. Paulista (região central de SP)
    O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva

    SÃO PAULO - Teremos mesmo Lula contra Bolsonaro no segundo turno do pleito de 2018? Improvável.

    Em condições normais, pesquisas eleitorais feitas com muita antecedência indicam mais o "recall" de cada candidato do que uma real intenção de voto, que só costuma materializar-se nas poucas semanas que antecedem o pleito. No caso específico desta eleição, que ocorrerá sob o impacto da Lava Jato, as sondagens servem ainda para tentarmos inferir o que vai na alma dos cidadãos.

    O movimento geral é de descrença na política. À exceção de Lula, do qual falaremos mais adiante, candidatos "mainstream" como Aécio e Alckmin sofreram pesadas perdas. Até Marina, vista como "pura", registrou declínio nas intenções de voto.

    Saem-se bem ou gente que frequenta o noticiário no papel de paladino da Justiça, caso dos juízes Sergio Moro e Joaquim Barbosa, ou políticos que, por alguma razão, conseguem vender a si mesmos como antiestablishment, categoria em que se encontram Bolsonaro e Doria.

    São indicações de que a população está em busca de um candidato não apenas livre das acusações da Lava Jato como também desligado da política tradicional. Vínculos com o combate ao crime tendem a ajudar.

    Resta, então, explicar o fenômeno Lula, que desponta como campeão de votos mesmo sendo o mais tradicional de todos os políticos citados e ter sido apontado como chefe da quadrilha pelo Ministério Público.

    Meu palpite é que Lula, a exemplo de outros líderes carismáticos como Ademar de Barros, Maluf, Reagan e Trump, se tornou um candidato teflon, que resiste a denúncias que se revelariam fatais para políticos normais. É como se o eleitor se dissesse, "bem, já que são todos iguais mesmo, vou pelo menos ficar com o que melhorou a minha vida". Não chega a ser uma posição irracional, ainda que peque por cinismo. Duvido, porém, que esse quadro permaneça inalterado até outubro de 2018.

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024