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    Hélio Schwartsman

    O embate

    12/05/2017 02h00

    Reprodução
    Depoimento Lula
    Ex-presidente Lula em depoimento ao juiz Sergio Moro

    SÃO PAULO - O tão antecipado confronto entre Lula e o juiz Sergio Moro foi como um debate eleitoral: cada cidadão acha que saiu vitorioso o candidato para o qual está torcendo. Assim, para petistas, Lula devorou Moro, enquanto, para os entusiastas da Lava Jato, o magistrado arrasou o ex-presidente.

    Se eliminarmos o fator torcida, ficamos com um quadro mais monótono, em que nem o magistrado conseguiu forçar o petista a cair numa contradição escandalosa, que revelasse todas as suas culpas, nem o ex-operário foi capaz de reduzir a pó as acusações que pesam contra si, desvelando para todos o caráter persecutório deste processo judicial.

    No geral, Lula deu respostas que procuravam corroborar a linha de defesa que já conhecíamos, empurrando a responsabilidade por algumas decisões sobre o tríplex para a mulher Marisa Letícia, já morta.

    O roteiro básico, porém, segue inalterado. Como a rota da delação premiada está vedada ao ex-presidente (quem ele acusaria? Deus?), só lhe resta politizar ao máximo o discurso, pintando-se como herói do povo vitimado pelas elites. As pesquisas eleitorais que o colocam à frente em 2018 o animam a seguir nesse curso, mas há duas dificuldades.

    A primeira é que Moro deverá condená-lo nas próximas semanas e, se a sentença for confirmada na segunda instância (o que pode ocorrer dentro de mais um ano), Lula, se escapar da cadeia, cai na Lei da Ficha Limpa, que o impediria de concorrer.

    A segunda é que o discurso da perseguição, embora seduza uma parcela da população, amplia as restrições que as demais lhe fazem. Como a eleição é em dois turnos e Lula já ostenta uma rejeição em torno dos 45%, ele se torna um bom candidato a ser derrotado em segundo escrutínio. Sua melhor chance seria concorrer contra alguém ainda mais controverso, como Jair Bolsonaro —cenário que muitos descreveriam como a materialização de um pesadelo.

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

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