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    Hélio Schwartsman

    Igualdade ou morte

    11/06/2017 02h00

    Crossrail
    Esqueletos descobertos em escavações na Inglaterra nos quais foi identificado DNA de bactéria responsável pela Grande Peste
    Esqueletos descobertos em escavações na Inglaterra nos quais foi identificado DNA de bactéria responsável pela Grande Peste

    SÃO PAULO - Queremos sociedades mais iguais, mas estamos dispostos a pagar qualquer preço por isso? Talvez não. O historiador Walter Scheidel (Stanford) decidiu olhar para o passado em busca daquilo que realmente faz com que a renda seja mais bem distribuída e concluiu que só grandes catástrofes sociais dão conta da missão –e mesmo assim apenas por tempo limitado.

    O resultado de suas pesquisas está em "The Great Leveler" (a grande niveladora). Ao longo de mais de 500 páginas, ele mostra com muita erudição histórica que a tendência geral das sociedades, desde a Idade da Pedra até hoje, é concentrar riqueza e que essa orientação só é revertida de forma um pouco mais perceptível em situações extremas das quais queremos manter total distância. Não é uma coincidência que o autor chame as forças niveladoras que identificou de quatro cavaleiros do apocalipse.

    A primeira é a mobilização para guerras maciças. É só em circunstâncias assim que países conseguem impor sobre os ricos taxas que realmente mudam o perfil de concentração de renda, como se verificou na Segunda Guerra, quando alguns países criaram alíquotas de IR de mais de 80%.

    A segunda são revoluções. Mas não vale qualquer rebeliãozinha. É preciso realmente pôr abaixo as estruturas sociais. As revoluções russa e chinesa conseguiram reduzir a disparidade de renda, a francesa, não.

    Colapsos de Estado são a terceira. A igualdade aqui é atingida menos por esforços distributivos e mais pela destruição da riqueza.

    Há, por fim, as megaepidemias. O exemplo clássico é a peste negra, que, ao dizimar até 40% da população de alguns países da Europa no fim da Idade Média, jogou o preço do trabalho na Lua.

    Scheidel não chega a sugerir que a igualdade seja uma meta impossível. Não é porque as coisas foram assim até hoje que precisarão ser assim para sempre. Mas ele traz razões para suspeitarmos que a tarefa é difícil.

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

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