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    Hélio Schwartsman

    Autodefinição

    21/06/2017 02h00

    Diego Padgurschi-28.mai.2016/Folhapress
    GALERIA DA SEMANA - JUNHO 1 - SAO PAULO, BRASIL - 28-05-2016: Parada do Orgulho LGBT: bandeira do movimento T (transexuais, travestis, homens trans e mulheres transexuais) com as cores azul, branco e rosa. O tema da parada deste ano é "Lei de Identidade de Gênero Já - Todos Juntos contra a Transfobia" (Diego Padgurschi /Folhapress - (COTIDIANO)
    Bandeira do movimento de transexuais e travestis na Parada LGBT de São Paulo, em 2016

    SÃO PAULO - Estou com os transexuais. Não vejo motivo para impedi-los de alterar seu registro civil para que tenham nome e documentos correspondentes ao sexo com o qual se sentem mais confortáveis, independentemente de terem passado por cirurgia ou de apresentarem avaliações médicas e psicológicas.

    O cálculo consequencialista aqui é simples. A troca de nome não prejudica ninguém —em tempos de computadores, não é difícil assegurar que a mudança não se torne uma forma fácil de dar o golpe na praça— e é presumivelmente importante para o bem-estar de quem a solicita. Espero que o STF, que está julgando a matéria, chegue à mesma conclusão.

    E isso nos leva às cotas. Da mesma forma que cabe a cada indivíduo escolher o gênero pelo qual quer ser identificado, penso que as pessoas têm o direito de definir o grupo étnico ao qual pertencem. Na verdade, esse princípio se aplica com mais força à questão racial do que à sexual, já que a legislação (nº 12.288, artigo IV) estabelece que o critério para a classificação racial é apenas a autodeclaração. Isso significa que basta uma pessoa afirmar que é negra para tornar-se legalmente negra, sem espaço para juízos de terceiros.

    E existem bons motivos para que seja assim. A ciência ainda não chegou a uma conclusão sobre se a espécie humana se subdivide em raças. Se nem isso sabemos, não dá para esperar encontrar critérios externos para definir quem pertence a qual grupo, especialmente quando lidamos com categorias intermediárias elásticas, como é o caso dos pardos.

    Não fazem sentido, portanto, os comitês de verificação que estão sendo criados em órgãos públicos para evitar que pessoas façam declarações "falsas" para beneficiar-se de cotas. O problema é que não dá para discriminar indivíduos (contra ou a favor) com base em características fenotípicas frouxas. É porque o racismo é objetivamente errado que nem conseguimos enunciá-las de forma coerente.

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

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