• Colunistas

    Tuesday, 30-Apr-2024 08:24:06 -03
    Hélio Schwartsman

    Alvo errado

    16/07/2017 02h00

    Marlene Bergamo/Folhapress
    Ato da Frente Povo Sem Medo e partidos de esquerda contra a reforma trabalhista em São Paulo
    Ato da Frente Povo Sem Medo e partidos de esquerda contra a reforma trabalhista em São Paulo

    SÃO PAULO - Estão tirando dos trabalhadores para dar aos patrões. É assim que muitos grupos de esquerda descrevem a recém-aprovada reforma trabalhista. Quanto há de verdade aí? Pouco, eu diria.

    O problema de certas facções menos sofisticadas da esquerda é que elas veem a economia como um jogo de soma zero, no qual o lucro de um é o prejuízo do outro. Se o dono do capital ganha, é porque está tirando recursos do trabalhador. O sistema, porém, é um pouco mais complexo.

    A economia é um jogo de soma positiva. A riqueza não é uma quantidade finita ditada pela natureza, pela qual diferentes agentes precisam digladiar-se, mas uma criação social. Se os arranjos produtivos são bons, mais riqueza é gerada. A maior parte da prosperidade material experimentada pela humanidade nos últimos dois séculos tem origem não em revoluções políticas, mas em ganhos de produtividade decorrentes de avanços tecnológicos e organizacionais.

    Interessa tanto a patrões como a empregados e também à sociedade em geral que as relações de trabalho busquem a maior eficiência produtiva possível, pois assim mais riqueza será gerada. A definição de qual quinhão vai para quem –o velho conflito distributivo, que os marxistas chamam de luta de classes– não tem a legislação trabalhista como palco único. Há vários outros canais de distribuição de renda, com destaque para a tributação e os serviços universais proporcionados pelo Estado.

    É mais ou menos consensual entre economistas que a rigidez da CLT hoje conspira contra os melhores arranjos produtivos. Uma flexibilização das regras tende a tornar as empresas mais eficientes.

    Se a esquerda quer reclamar de patrões e injustiças, deveria escolher alvos melhores, como os imorais juros subsidiados oferecidos via BNDES a empresários amigos do rei, anomalias tributárias como a isenção de impostos na distribuição de dividendos e até mesmo o sistema S.

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024