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    Hélio Schwartsman

    Gambiarras nada saudáveis

    21/07/2017 02h00

    Alan Marques - 26.dez.16/Folhapress
    O ministro da Saúde, Ricardo Barros, apresenta balanço de 200 dias de gestão e anuncia a liberação de verbas para novos serviços de saúde
    Ministro da Saúde, Ricardo Barros, que quer instalar uma fábrica de derivados do sangue em Maringá

    SÃO PAULO - "A biometria vai servir para que todos cumpram seus horários de trabalho. Vamos parar de fingir que pagamos médicos e os médicos vão parar de fingir que trabalham". Com essa frase, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, despertou a ira de entidades médicas.

    O Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Médica Brasileira (AMB) soltaram uma nota conjunta em que qualificam os termos usados por Barros como "inadequados" e "pejorativos". A Federação Médica Brasileira (FMB) chegou mesmo a sugerir que o ministro voltasse para a engenharia, sua área de formação, porque na medicina "ele ainda não conseguiu provar a que veio".

    Na disputa entre a medicina e a engenharia, acho que falta um economista. Se Barros de fato passar a controlar os horários de todos os médicos por biometria, é provável que vários serviços entrem em colapso.

    Nem todas as ausências de profissionais se devem a preguiça e fraudes. Uma parte delas é resultado de disfuncionalidades do próprio sistema. Médicos, como quaisquer outros trabalhadores, se aposentam, adoecem, tiram férias etc. Quando isso acontece, é necessário que os gestores desloquem outro profissional para cobrir o que está ausente. Obviamente, há funções mais e menos cobiçadas. É fácil preencher o plantão diurno no hospital ao lado do metrô. Já a vaga do sábado à noite no hospital que fica na porção mais violenta da cidade não encontra muitos voluntários.

    Para manter os hospitais funcionando com pelo menos um médico, os gestores acabam recorrendo a gambiarras diversas, como abonar duas faltas de quem aceitou dar um plantão "difícil". São práticas irregulares, mas que um economista tucano descreveria como soluções criativas informais para os descompassos entre a oferta e a demanda.

    É difícil resolver isso sem mexer na engessada estrutura dos salários no serviço público.

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

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