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    Hélio Schwartsman

    Reação antirracista

    18/08/2017 02h00

    Chip Somodevilla/Getty Images/AFP
    CHARLOTTESVILLE, VA - AUGUST 12: A counter-demonstrator marches down the street after the "Unite the Right" rally, a gathering of white nationalists, neo-Nazis and members of the "alt-right" was declared an unlawful gathering August 12, 2017 in Charlottesville, Virginia. After clashes with anti-fascist protesters and police the rally was declared an unlawful gathering and people were forced out of Lee Park, where a statue of Confederate General Robert E. Lee is slated to be removed. Chip Somodevilla/Getty Images/AFP == FOR NEWSPAPERS, INTERNET, TELCOS & TELEVISION USE ONLY ==
    Protesto contra marcha neonazista em Charlottesville, nos Estados Unidos

    SÃO PAULO - Apenas três dias atrás, eu dizia aqui que estava preocupado com a relutância de Donald Trump em condenar os grupos racistas que se manifestaram em Charlottesville no último sábado. Bem, não estou mais. É verdade que, nas últimas 36 horas, o presidente conseguiu a proeza de se enrolar ainda mais nesse episódio, mas a reação dos norte-americanos à reação imprópria de Trump foi tão formidável que substitui, com sobras, a falta de clareza daquele que deveria ser uma das bússolas morais do país.

    Nos últimos dois dias, o presidente foi abandonado pelos empresários que o apoiavam, desautorizado por comandantes militares e criticado por lideranças políticas de seu próprio partido. São atitudes que deixam claro que a América "mainstream" rompeu com seu passado de racismo institucional explícito.

    Não se trata, obviamente, de afirmar que o racismo tenha sido superado —ele é visível numa miríade de dados socioeconômicos—, mas apenas de constatar que, mesmo para setores conservadores, a ideia de que a raça de um indivíduo possa definir e justificar a posição social que ele ocupa na sociedade se tornou moralmente repugnante. E esse virtual consenso é a melhor arma contra o racismo que se pode desejar.

    Quanto a Trump, creio que ele se meteu em maus lençóis. Não percebeu que posicionar-se rápida e inequivocamente —e do lado certo— nesse tipo de controvérsia é praticamente uma exigência do cargo que ocupa. É algo que está inscrito nos mitos fundadores do país, que vê a si mesmo como uma nação excepcional, moralmente superior às demais, e destinada a desempenhar um papel especial no mundo.

    Não creio que Trump vá sofrer impeachment por não ter sabido condenar o racismo na hora certa, mas, se vier enfrentar um processo de afastamento por qualquer outro motivo, os apoios que ele perdeu nos últimos dias poderão custar-lhe caro.

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

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