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    Hélio Schwartsman

    Lula, o dilema do PT

    30/08/2017 02h00

    Marlene Bergamo/Folhapress
    PODER - No nono dia da Caravana Pelo Brasil, a ex Presidenta Dilma encontra o ex Presidente Lula participa de ato da Frente Brasil Popular, no centro de Recife. 25/08/2017 - Foto - Marlene Bergamo/Folhapress - 017 -
    Lula em Recife, em evento de sua Caravana Pelo Brasil

    SÃO PAULO - É difícil a situação de Luiz Inácio Lula da Silva. A menos que ele decida fazer um improvável "mea culpa" público, admitindo, no mínimo, que se meteu em relacionamentos inadequados com empresários que já confessaram estar envolvidos até a medula em corrupção, só lhe resta mesmo esbravejar contra a Lava Jato e os jovens promotores. Ele precisa tentar pintar os processos a que responde como uma perseguição política.

    O primeiro problema é que esse discurso só soa verossímil para os eleitores que já simpatizam mais fortemente com o PT, uma parcela da população que não excede os 30%. As taxas de rejeição ao ex-presidente são superiores a isso, ficando em torno dos 50%. Não é uma coincidência que ele tenha de limitar suas caravanas às áreas do Nordeste onde ainda goza de forte popularidade.

    É um cenário que o transforma num excelente candidato para chegar ao segundo turno e nele ser derrotado por um oponente que desperte menos animosidade na maioria da população. Sua melhor chance, senão a única, seria disputar o segundo escrutínio contra alguém ainda mais polêmico, isto é, contra Jair Bolsonaro. Eu não me surpreenderia se alguns petistas mais dados ao pensamento estratégico, levando a dissonância cognitiva a extremos, descarregassem seus votos de primeiro turno no ex-militar.

    O segundo problema de Lula é que são grandes as chances de a Justiça bloquear sua candidatura. Nesse caso, o PT precisará lançar um outro candidato —que, ao que tudo indica, seria Fernando Haddad e aí o discurso anti-Lava Jato do partido tende a tornar-se contraproducente. A melhor chance de a legenda voltar a ser viável em eleições majoritárias é admitir honestamente seus erros e tentar mostrar que aprendeu algo com eles. A presença de Lula como líder máximo e inconteste do partido praticamente inviabiliza esse caminho.

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

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