• Colunistas

    Friday, 19-Apr-2024 19:23:36 -03
    Hélio Schwartsman

    Como falar da maconha?

    03/09/2017 02h00

    AFP
    Sabemos que podemos ser presos': grupo desafia a lei para criar clubes de maconha no Brasil -- Usuário argumenta que plantar a maconha que ele consome o ajuda a reduzir danos e evitar o financiamento do tráfico
    Homem fuma cigarro de maconha

    SÃO PAULO - Num mundo ideal, as drogas seriam todas legalizadas, e ninguém as usaria.

    Meu argumento pró-legalização é essencialmente filosófico. Não cabe ao Estado determinar o que cada indivíduo pode ou não ingerir e muito menos definir o tipo de vida que cada um deve levar. Se o cidadão deseja mergulhar num entorpecimento semipermanente e não se importa em destruir sua saúde nesse processo, é um direito seu fazê-lo.

    Subsidiariamente, também me parece interessante privar o crime organizado de uma de suas principais fontes de lucro. Vender drogas, afinal, é um delito muito fácil. O tráfico é um dos raros tipos de transgressão penal em que a suposta vítima chega a fazer fila para "sofrer" a injúria.

    Existem também argumentos contra a legalização. Eles são de ordem sanitária. Se mais gente consumir drogas, teremos de lidar com um número maior de complicações médicas decorrentes do abuso.

    Nesse contexto, preocupa-me a glamourização da maconha. Ela aparece de forma simpática em filmes de Hollywood, reportagens na mídia etc.. Dá para afirmar com segurança que o álcool causa mais danos à sociedade do que a maconha, mas, ainda assim, a Cannabis continua sendo uma droga. Ela traz riscos à saúde e, para uma pequena minoria da população, tem impacto devastador.

    São inquietantes, por exemplo, as metanálises que ligam o consumo de maconha ao desenvolvimento de psicose crônica e esquizofrenia. Embora seja difícil prová-lo estatisticamente, muitos pesquisadores já apostam que essa seja uma relação causal e não de mero gatilho.

    Para conciliar liberdade com sanidade, precisamos deixar de tratar drogas como caso de polícia sem, entretanto, sancionar socialmente seu uso pintando-as como charmosas. Precisamos transmitir a mensagem de que são um mal a ser tolerado, não símbolo de status. É o que fizemos com o tabaco e vem dando certo.

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024