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    Hélio Schwartsman

    Vitória feminista

    08/09/2017 02h00

    Leonardo Soares - 13.jun.2014/UOL
    ESTUPRO USP - SAO PAULO, SP, BRASIL,13/06/2014 - Fernanda, aluna da USP que foi estuprada durante festa na universidade em 2011. (FOTO: Leonardo Soares/UOL -NOTICIAS)******EMBARGADO PARA USO EM INTERNET******* ATENCAO: PROIBIDO PUBLICAR SEM AUTORIZACAO DO UOL ORG XMIT: AGEN1406131657479074
    Vítima de estupro

    SÃO PAULO - Num mundo onde exista correspondência entre palavras e coisas, não dá para chamar de cultura do estupro a cultura que lincha seus estupradores. O sinal que a sociedade passa aqui não é o de que é OK estuprar uma mulher.

    Faço essas observações por causa de mensagens que recebi de leitores indignados com a coluna de terça-feira (5), em que lancei dúvidas sobre a cultura do estupro. Cuidado, em nenhum momento disse que não há machismo no Brasil. Ao contrário, afirmei-o na primeira linha do texto.

    E é claro que dá para listar o machismo —notadamente a ideia que alguns homens têm de que não precisam da autorização da mulher para ter acesso ao corpo dela— entre as muitas causas distais que afetam as estatísticas de estupro. Mas me parece complicado apontá-lo como a principal razão. Estupros têm etiologia multifatorial e me parece temerário afirmar, sem base em estudos empíricos, que o machismo seja mais relevante do que a ineficiência da polícia ou o nível geral de violência experimentado na sociedade.

    Steven Pinker, em "Os Anjos Bons de Nossa Natureza", sustenta não apenas que as mulheres venceram a batalha institucional –hoje a maioria das nações tem leis rígidas contra o estupro–como também que a violência contra a mulher vem caindo acentuadamente. Nos EUA, pelas estatísticas do FBI, os estupros baixaram de 250 por cem mil habitantes por ano em 1973 para 50 em 2008. É uma redução de 80%, mas certos grupos feministas não só não reconhecem a vitória como ainda passam a impressão de que a violência contra a mulher está sempre aumentando.

    Não há base de dados confiável para o Brasil. Pelos registros policiais, nossa taxa de estupros seria menor que a dos EUA, o que parece impossível. Mas, se a tese de Pinker de que a diminuição da violência é um fenômeno global ligado ao avanço da civilização é correta, a tendência por aqui também deve ser de redução.

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

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