• Colunistas

    Saturday, 18-May-2024 11:50:49 -03
    Hélio Schwartsman

    Poder disfuncional

    10/09/2017 02h00

    Pedro Ladeira/Folhapress
    Sessão plenária do STF, sob a Presidência da ministra Cármen Lúcia
    Sessão plenária do STF

    SÃO PAULO - Depositamos tantas esperanças em que o Judiciário dê um jeito no Brasil que perdemos de vista o fato de que ele é possivelmente o mais disfuncional dos Poderes da República e também tem sua parcela de responsabilidade na crise que vivemos.

    Com efeito, contamos com juízes e promotores não só para identificar e punir empresários e políticos metidos com corrupção como também para suprir as muitas inoperâncias do Congresso. Estão na pauta do STF questões importantes como a laicidade do ensino público, a descriminalização do uso de drogas e do aborto, para citar apenas as mais candentes.

    Pessoalmente, acho que cortes constitucionais sempre têm legitimidade para ampliar direitos individuais, mas é forçoso reconhecer que esse tipo de decisão causaria menos polêmica se fosse tomada pelo Legislativo. Este, porém, prefere omitir-se sobre matérias com potencial para indignar fatias do eleitorado.

    O ponto é que, por mais relevantes que sejam os serviços que os juízes estão prestando, não dá para deixar de reparar nos muitos pecados coletivos do Judiciário. Para início de conversa, ele é assustadoramente ineficiente. Em proporção do PIB, gastamos aqui com Judiciário/MPs/Defensorias 1,8% do PIB, o que é cinco vezes mais do que a Alemanha ou nove vezes mais do que a França.

    No mais, a corrupção só chegou aos níveis que chegou porque, desde sempre, a Justiça se furtou a investigar e julgar autoridades. É também ao Judiciário que devemos creditar parte dos privilégios que o Estado brasileiro injustificadamente concede a grupos de servidores, o que se consubstancia em infindáveis penduricalhos extrassalariais, múltiplas férias etc. Essas regalias em geral têm início com juízes, mas depois se espalham num magnífico efeito cascata por quase todo o funcionalismo.

    E olhem que ainda nem trombamos com o problema da corrupção no Judiciário, que também existe.

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024