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    Hélio Schwartsman

    Violência e droga no Rio

    27/09/2017 02h00

    Domingos Peixoto/Agência o Globo
    Rio de Janeiro (RJ), 25/09/2017, Rocinha / Forças de Segurança - Exército reforçando a segurança na Rocinha. Na foto: soldados com máscaras. Foto: Domingos Peixoto / Agência o Globo DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM
    Exército faz operação na Rocinha

    SÃO PAULO - Como sempre ocorre quando a violência repica, surgem vozes defendendo a legalização das drogas. Sou inteiramente favorável a essa medida e até acredito que ela, a longo prazo, contribuiria para reduzir o poder do tráfico e, por extensão, a barbárie por ele patrocinada. Mas precisamos de cuidado para não comprar gato por lebre.

    A lamentável onda de violência que o Rio de Janeiro atravessa tem causas proximais e distais. A mais imediata delas é sem dúvida o virtual colapso financeiro do Estado, que teve impactos devastadores sobre o policiamento e outros serviços essenciais. Basta lembrar que, até a pane fiscal, o Rio era o Estado que, depois de São Paulo, vinha colhendo os melhores resultados na redução de homicídios. Sem restaurar, ainda que parcialmente, a capacidade do governo fluminense de pagar a folha salarial dos policiais e fazer investimentos na instituição, a situação não vai melhorar. Gostemos ou não, polícia é fundamental.

    É só no plano das causas mais remotas que a questão das drogas aparece, até com um certo destaque. Uma porção não desprezível da violência urbana —e também da corrupção— é gerada por organizações criminosas que têm no tráfico sua principal fonte de lucros. Se as drogas fossem todas legalizadas, esses cartéis se enfraqueceriam.

    O problema é que transições desse tipo não são instantâneas. É difícil imaginar o líder do PCC trocando a arma por uma gravata e negociando bushels de maconha na Bolsa de Chicago. O mais provável é que os cartéis tentem compensar as perdas decorrentes de uma legalização praticando outros crimes, provavelmente mais violentos do que a venda direta de drogas ao consumidor. É só num prazo mais dilatado que o efeito positivo se materializaria.

    Minha defesa da legalização é muito mais por razões filosóficas do que por aspectos utilitários que não temos certeza de que ocorrerão.

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

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