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    Heloísa Negrão

    Alérgicas a cosméticos

    25/04/2012 14h37

    Maquiagem, tinturas para cabelo e esmaltes são vendidos para serem artifícios embelezadores, função que pode ir por água abaixo quando desencadeiam alergias.

    A médica Fátima Rodrigues Fernandes, presidente da ASBAI-SP (Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia da regional São Paulo), explica que alergia é uma condição hereditária genética. E, a rigor, qualquer substância pode desencadear essa ação, mesmo após muito anos de uso.

    Divulgação
    Os produtos da linha de maquiagem da Clinique são hipoalergênicos
    Os produtos da linha de maquiagem da Clinique são hipoalergênicos

    "É comum ver pessoas que usaram determinado produto por muito tempo e em certo momento começam a apresentar alergia. Chega até ser difícil para o médico para convencer o paciente a suspender o uso", conta. Ela cita como exemplo comum nos consultórios as mulheres mais velhas que, depois de anos de tintura, às vezes até da mesma marca, começam a ter eczemas nas orelhas e no pescoço.

    Não é o cosmético por si o causador da alergia, mas, sim, um substância usada em sua fórmula. A adição ou não dela pode mudar conforme a marca. Por isso, após feitos os exames para descobrir a qual substância se é alérgico, a única forma de prevenção é ficar de olho no verso das embalagens. Fernandes recomenda entrar em contato com as empresas para checar se realmente não há o componente, pois algumas embalagens não mostram absolutamente tudo o que foi usado.

    Para descobrir qual o produto causador da alergia é recomendado o teste de contato. Nesse exame, é colocada uma placa de metal com diversos tipos de produtos nas costas do paciente e após 48 horas o médico faz a primeira análise. Outra leitura é feita após mais 48 horas. Achado o causador, é dado um relatório ao paciente com os produtos nos quais ele pode encontrar esse elemento. A parafenilenodiamina, usada como fixador, além de presente na tintura pode estar em cosméticos escuros, como sombras e lápis de olho, por exemplo.

    Há também o teste do uso, quando se coloca um pouco do produto em uma região onde a pele é mais fina (como na dobra interna dos cotovelos) e se acompanha a reação. Algumas tinturas de cabelo ensinam como fazer esse teste no panfleto que vem junto com o produto.

    Esse mesmo teste era feito com as maquiagens que seriam usadas pela ex-ministra, Marina Silva, altamente alérgica, durante a campanha presidencial em 2010. Isabela Turcato lembra que o efeito era imediato e a pele empipocava na hora. A médica, porém, alerta que o teste de toque é eficaz em quem já tem um histórico de alergia.

    SAÍDAS

    Nas gôndolas das farmácias e nas lojas de cosméticos não é difícil encontrar produtos denominados hipoalergênicos. É preciso ter cuidado, pois o uso do termo na embalagem não significa passe livre para 100% dos alérgicos. Alguns esmaltes hipoalergênicos podem tirar toluol, formaldeído e parabeno --que estatisticamente causam mais alergias-- da fórmula, mas outras substâncias químicas continuarão lá e elas podem ser prejudiciais para outros tipos de alérgicos.

    A tintura de henna, por exemplo, é um plano B para as alérgicas a parafenilenodiamina (presente nas colorações) que não querem deixar os fios brancos. Mesmo assim, elas precisam ficar de olho na embalagem, pois algumas marcas adicionam esse fixador.

    Cris Dios, do Laces and Hair, possui uma linha de cosméticos naturais que usa em seu salão. Além da henna, há um tonalizante à base de óleo de camomila que clareia até dois tons o cabelo e também deixa os fios brancos dourados, dando o efeito de luzes.

    Ela explica que, por serem naturais, esses cosméticos não colorem com a mesma potência que os produtos químicos. Os fios brancos ganharão um tom dourado, mas não vão ficar loiros como nos processos à base de água oxigenada.

    Divulgação
    Tratamento à base de produtos naturais no salão Laces and Hair
    Tratamento à base de produtos naturais no salão Laces and Hair

    Na maquiagem, as soluções para as alérgicas são mais difíceis. Maquiadora há quase dez anos, Virgínia Gregório, do Studio W, é vítima das suas lindas ferramentas de trabalho. "Já usei um rímel com cheiro que deixou o meu olho vermelho como sangue", conta. De tempos em tempos ela diminui a quantidade de make usada nos olhos, que às vezes ficam vermelhos em decorrência de muitos anos de maquiagem. "Eu paro de usar o lápis na linha d'água, fico só com um sombrinha marrom e um rímel", diz ela que, apesar da indicação do médico, não consegue abolir totalmente a pintura dos olhos.

    Turcato diz que em casos como o da Marina Silva, era usado somente base, corretivo e blush (após pesquisa para encontrar marcas que não causassem nenhuma reação na pele). Os maquiadores não passavam base na pálpebra e dessa maneira o próprio tom mais escuro da área dos olhos dava o efeito de sombra. Nos lábios, beterraba fazia a vez de batom. "Ou a gente cortava a beterraba na hora e ela dava um beijinho, ou fazíamos uma pastinha e aplicávamos com pincel", relembra.

    heloísa negrão

    Escreveu até setembro de 2016

    Boniteza

    É formada em jornalismo pela PUC-SP e em ciências sociais pela USP. Foi editora-adjunta de Novas Plataformas e repórter da revista sãopaulo.

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