• Colunistas

    Sunday, 28-Apr-2024 21:29:30 -03
    Heloísa Negrão

    A receita de um perfume de vinho que não cheira a vinho

    16/07/2014 16h33

    Como criar um perfume de vinho sem deixar as pessoas cheirando a bebida? Essa foi a pergunta que perfumistas se fizeram quando o fundador de O Boticário teve a ideia de lançar uma fragrância que remetia ao mundo dos vinhos. Na época, Miguel Krisgner tinha acabado de conhecer uma vinícola chilena.

    "Eu não sabia o que queria, só sabia que não podia cheirar a vinho", diz Krisgner. Com essa ideia na cabeça, o time de perfumistas foi atrás de um enófilo.

    "Ninguém quer cheirar a vinho. O Malbec não cheira a vinho. Tínhamos que trazer o gestual do vinho, a sua sofisticação e sedução", diz Napoleão Bastos, perfumista responsável pela criação da fragrância.

    "Quando o enófilo começou a falar sobre a roda de descritores usada para classificar vinho – com adjetivos como amadeirado, condimentado, fresco, frutas secas e ameixa – pensamos que era por ali que deveríamos começar", afirma o perfumista Napoleão Bastos.

    Dos cardamomos do sul da França veio o cheiro amadeirado, fresco e de frutas vermelhas. "Nós desenvolvemos uma qualidade específica da semente que foi usada em todas as versões do perfume Malbec", conta Bastos.

    Divulgação
    Cavas da vinícola Concha y Toro, em Santiago, no Chile. De um espaço como esse capturou-se um dos odores que fazem parte da fragrância do perfume
    Cavas da vinícola Concha y Toro, em Santiago, no Chile. De um espaço como esse capturou-se um dos odores que fazem parte da fragrância do perfume Malbec

    Extraiu-se, então, a parte mais nobre do cheiro das sementes. Essa "fração" remetia ao odor de frutas secas, ameixa e morango, tão comum aos vinhos.

    "Os óleos essenciais são extraídos por um processo chamado arraste por vapor: você coloca uma massa vegetal dentro de um recipiente e faz com que o vapor passe por ela. O vapor carrega os óleos essenciais com ele, que surgem após a condensação", explica Bastos. Os perfumistas então destilaram esse óleo (bastante comum na perfumaria) e retiram apenas a sua parte mais nobre.

    Outra ingrediente trazido dos vinhos foi o álcool vínico, mais leve e delicado que o etílico. Na fábrica da marca, existe uma área reservada onde é feita toda a maturação desse álcool vínico, macerado em barris de carvalho francês.

    Depois das frutas e do álcool característicos dos vinhos, faltava ainda o cheiro da madeira das cavas onde os vinhos repousam antes de serem envazados. "Fomos até Mendonça (Argentina) e usamos um headspace para capturar o cheiro do ambiente onde ficavam as cavas. É um cheiro que lembra vinho, mas com mais frescor", diz Bastos.

    Divulgação
    Malbec Supremo (R$149), edição comemorativa dos 10 anos do perfume
    Malbec Supremo (R$149), edição comemorativa dos 10 anos do perfume

    O headspace é um aparelho que funciona como um eletrocardiograma fazendo a leitura do ar de um ambiente e informando os cheiros que estão ali. Ele também conta qual odor predomina.

    "Isso que torna o perfume impossível de ser copiado, pois o cheiro daquele cave, naquele momento, não vai existir nunca mais, pois as safras mudam, o clima é outro e isso altera o odor do local", afirma Bastos.

    A partir desses ingredientes nasceu o o Malbec há dez anos. O perfume foi um dos principais responsáveis por levar O Boticário à liderança do mercado no Brasil pela primeira vez. Segundo pesquisa da Kantar, Malbec é o vidrinho que está presente em mais casas brasileiras.

    A expectativa da marca agora é entrar para o ranking dos perfumes mundiais por meio de premiações internacionais. Ele diz que apesar do volume de vendas, o Brasil não tem reconhecimento na perfumaria mundial.

    A jornalista Heloísa Negrão viajou ao Chile à convite de O Boticário

    heloísa negrão

    Escreveu até setembro de 2016

    Boniteza

    É formada em jornalismo pela PUC-SP e em ciências sociais pela USP. Foi editora-adjunta de Novas Plataformas e repórter da revista sãopaulo.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024