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    Heloísa Negrão

    24 horas de megahair

    08/10/2014 06h14

    Dormi 'joaozinho' na quarta, acordei Rapunzel, e voltei a dormir joãzinho na quinta. Meu megahair durou 24 horas e (ainda vai durar) três parcelas no meu cartão de crédito.

    Cortei meu cabelo curtinho pela primeira vez há mais de dois anos, logo depois que a atriz Anne Hathaway aderiu ao 'pixie'. Fiquei obcecada por dias. Encontrei um cabeleireiro fera em curtinhos e cortei, depois de três meses, tosei mais ainda. Estava quase cantando "I Dreamed a Dream", de "Os Miseráveis".

    Recentemente, resolvi que era hora de deixar crescer, mas não queria passar pela fase tenebrosa em que os fios estão na altura das orelhas e ficam sem caimento. O cabeleireiro Wilson Eliodoro me disse há uns anos, durante uma entrevista: "eu sempre falo para a mulher cortar, se ficar ruim, a gente cola de volta". E lá fui eu atrás de um megahair.

    Por ter o cabelo muito curto, colar os fios alheios com queratina (método que as atrizes da Globo costumam fazer) não daria certo, pois eu não teria cabelo natural suficiente para cobrir os pontinhos em que seria aplicada a cola.

    A extensão pareceu a melhor saída. Nela, os fios comprados são tecidos em uma tira de tecido. A cabeleireira faz tranças grudadas ao couro cabeludo (como aquelas que o rapper Snoopy Dog usa) e costura essa tira nas trancinhas. Problema: como meu cabelo é muito curtinho, ela não conseguiu trançar e teve de fazer mini-rabinhos com fio de latex.

    (Pausa para o primeiro analgésico enquanto a cabeleireira amarrava cada mechinha).

    Heloísa Negrão/Folhapress
    A tira de tecido com os fios de cabelo costurados (à esq), os amarradinhos (embaixo) e o look "O Chamado" (à dir.)
    A tira de tecido com os fios costurados (à esq), os amarradinhos (embaixo) e o look 'O Chamado' (à dir.)

    Depois de cinco horas, estava com o cabelo na cintura e bastante dor de cabeça. No trabalho, um colega se surpreendeu: "Helô? Nossa, é você? Já ia perguntar quem era essa morena nova na Redação".

    Fui para casa. Em frente ao espelho percebi que eu teria de cortar muito para ficar bom. Ao longo do meu 1,60 cm, comprar 50 cm de cabelo, definitivamente, tinha sido um erro. Nas lojas de cabelo tem chumaços de 30 cm ou até menos.

    Os fios são comprados por peso (no meu caso foram 300g). Cortar 10 cm do meu aplique significaria perder um bom dinheiro. Somada à dor de cabeça, a decisão de arrancar tudo aquilo o quanto antes latejou na minha têmpora esquerda, e na direita, durante a noite toda.

    No dia seguinte voltei ao salão. Expliquei a situação. Ficar daquele jeito não dava: estava me sentindo muito feia; e cortar era o mesmo que picotar notas de R$100.

    Segundo problema, os tufinhos amarrados estavam explodindo por cima do aplique. Segundo a cabeleireira, eles abaixariam depois da primeira lavagem. Não quis pagar para ver.

    Combinei que pagaria pela mão de obra, afinal a cabeleireira não teve culpa pelo meu rompante megalomaníaco capilar. Os 300 gramas de cabelo brasileiro ficaram lá no salão/loja de cabelos. Quando alguém comprar, eles me devolvem o dinheiro (R$1.000, pois é, cabelo humano custa quase o preço de um iPhone)

    Poderia terminar o texto dizendo que me dei conta que não é o megahair que vai me fazer virar a Juliana Paes ou que madeixas longuíssimas não valem uma cabeça latejante, afinal de contas, somos bonitas com qualquer cabelo. Poderia (e acredito nisso), mas não é essa a moral desta história. Meu erro foi comprar o produto errado. Se um sapato é maior que o seu pé, não significa que o calçado seja feio. Quando eu tiver cabelo suficiente para as tranças – e mais um faniquito capilar – vou lá costurar de novo os fios de outra pessoa na minha cabeça e sairei batendo cabelo por ai. Mas 50 cm, nunca mais.

    Arquivo Pessoal
    Joãozinho/Rapunzel
    Joãozinho/Rapunzel

    heloísa negrão

    Escreveu até setembro de 2016

    Boniteza

    É formada em jornalismo pela PUC-SP e em ciências sociais pela USP. Foi editora-adjunta de Novas Plataformas e repórter da revista sãopaulo.

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