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    Heloísa Negrão

    Salvador Dalí: 1ª celebridade a ter seu perfume fora do mundo da moda

    22/10/2014 18h18

    Além de mestre do surrealismo, Salvador Dalí também tem o título de pai dos perfumes de celebridades. O seu nome foi o primeiro - fora do mundo da moda – a estampar um frasco de perfume.

    A ideia de fazer um perfume Salvador Dalí foi de Jean Pierre Grivory, que esteve em São Paulo na última semana por conta da abertura da exposição do pintor espanhol. No início dos anos 80, o francês que já tinha obtido sucesso em sua linha de perfumes populares Caffè, queria entrar no mercado de luxo. Escreveu para Dalí, que aceitou a proposta. Depois de sete maquetes, nascia, em 1983, o frasco de perfume inspirado nos lábios de Afrodite, da obra "Apparition of the Visage of Aphrodite of Cnide in a Landscape".

    É graças a "celebridade" Salvador Dalí que a linha de perfumes com a assinatura do pintor concorre até hoje com os grandes nomes da perfumaria. A fragrâncias é número um na Rússia desde os tempos da União Soviética. Apenas cinco perfumes franceses tiveram permissão para serem vendidos na extinta URSS e Salvador Dalí era o único que não tinha nome de estilista. "Na época, o conceito de moda não existia na URSS, pois a comunicação estava fechada. Eles não sabiam quais eram os grandes estilistas, nem viam os desfiles. Enquanto arte e cultura eram suas únicas distrações. Fora isso, Dalí estava muito em alta, pois ele estava casado com um russa. Então, daquelas marcas de perfumes, "Dali le Parfum" era a única que tinha um significado fora o cheiro".

    Divulgação
    Jean-Pierre Grivory e o perfume Laguna, da linha Salvador Dalí
    Jean-Pierre Grivory e o perfume Laguna, da linha Salvador Dalí

    Sobre os perfumes com nomes de cantores teens ou atrizes atuais, Grivory evita fazer críticas, mas diz que não pode ser apenas um nome estampado em um frasco. "É preciso ter uma relação próxima entre a celebridade, a fragrância e o design do vidro", diz.

    Relação que ele diz ter havido ao desenvolver o perfume com Dalí. "Ele sabia o que queria, não nos deu trabalho", diz Grivory. Para a fragrância, o pintor pediu apenas toques de rosa (a flor predileta de sua mulher, Gala) e jasmim, sua preferida. "São as flores mais tradicionais da perfumaria", afirma o empresário. Essa escolha, segundo Grivory, mostra o lado mais clássico de Dalí. Apesar de conhecido pela excentricidade, ele tinha uma técnica de pintura extremamente clássica e todos os seus quadros possuem um ponto de equilíbrio.

    Grivory vê semelhanças entre a arte e a perfumaria. "Construímos uma fragrância como um pintor realiza uma obra. Ao ver a tela branca, ele sabe se vai fazer um rosto, uma paisagem ou um abstrato. Uma vez que ele decide, ele entra na sua tela e constrói. [Para criar] uma fragrância temos que encontrar uma direção correta e depois, pouco a pouco, agregar mais ou um menos substâncias".

    Para ele, a parte mais difícil é determinar quando o perfume está pronto. "A embalagem pode ser bonita e ter estampado um nome de prestígio, mas o que faz o consumidor comprar o segundo vidro, é o cheiro", diz. Grivory diz que o perfume usado não apenas para si próprio,"mas também para aqueles que você ama".

    Após a morte de Dalí, os perfumes que deram sequência a linha foram todos criados por Grivory. As embalagens seguem sendo inspiradas nos quadros do pintor surrealista.

    A fragrância que foi aprovada por Dalí há mais de 30 anos não está a venda no Brasil. Por aqui, o perfume da linha mais famoso é o Laguna. Nessa versão, os lábios de Afrodite ganharam um tom de verde e, especificamente para o Brasil, uma embalagem mais humilde.

    "No início dos anos 90, houve uma desvalorização muito grande do real. O que antes custava R$ 100, passou a custar R$180. Para não perder clientes, criamos uma embalagem mais simples, com o mesmo produto, para evitar que o preço subisse", diz Gregory. Essa customização para o mercado brasileiro fez com que, hoje, o Laguna seja um dos perfumes importados mais baratos do mercado (R$59, 30ml).

    "Nesse momento complicado da economia brasileira, eu vejo várias marcas baixando os preços, mas não vamos precisar fazer isso, por que já o fizemos nos anos 90", brinca o francês, fluente em português e apaixonado pelo Brasil.

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    Estou saindo de férias. Volto no final de novembro. Até lá!

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    heloísa negrão

    Escreveu até setembro de 2016

    Boniteza

    É formada em jornalismo pela PUC-SP e em ciências sociais pela USP. Foi editora-adjunta de Novas Plataformas e repórter da revista sãopaulo.

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