• Colunistas

    Saturday, 04-May-2024 19:57:53 -03
    Heloísa Negrão

    Nova-iorquina é a 'Chanel' das perucas de São Paulo

    10/06/2015 14h18

    Com vestido e meia-calça pretos, armação dos óculos e sapatilhas vermelhas, Yaffie Begun, 46, tem uma aparência bastante jovial para uma mulher que já tem dois netos – filhos, são seis. Há 23 anos no Brasil, a nova-iorquina hoje é considera a "Chanel" das perucas em São Paulo e está na agenda dos oncologistas mais renomados da cidade – eles a indicam para suas pacientes que perdem os cabelos durante a quimioterapia.

    Eliana Tranchesi, Glória Perez e Cris Lotaif foram suas clientes durante o tratamento contra o câncer. Naomi Campbell usou suas perucas para os editoriais de moda que fez para a revista "Vogue Brasil" e levou duas para casa. Políticos do mais alto escalão também já usaram as Crown Wigs.

    As perucas de Yaffie são personalizadas e feitas com cabelos de índios da América Latina. "Eles são tão pobres e moram tão longe que não fazem tintura ou relaxamento e não tem acesso a Burger King [junk food prejudica o cabelo]. Por isso, os fios são excelentes e virgens." Os cabelos indígenas são muito valorizados nesse mercado.

    Reprodução/Instagram
    Angélica ficou morena para um editorial de moda graças a uma das perucas de Yaffie
    Angélica ficou morena para um editorial de moda graças a uma das perucas de Yaffie

    Ela viaja a cada três semanas para Bolívia, Colômbia e Paraguai para comprar cabelo. De volta ao Brasil, ela separa os fios por cor e textura e manda para China, onde as perucas são costuradas.

    Judia ortodoxa, Yaffie não usa cabelos indianos. "As mulheres doam os seus cabelos para um templo e alguém revende sem que elas saibam. Ganham dinheiro em cima da fé. Achamos isso uma falta de respeito com a religião", diz. Entre os judeus ortodoxos, a preocupação é tanta que há um selo para comprovar a origem dos fios.

    No comércio popular do centro de São Paulo, os apliques com esses selos escritos em hebraico ganharam o nome de "perucas kosher". "Já cansei de explicar que não tem nada a ver, que kosher é comida, mas... Não adianta", explica resignado Mendel Begun, 51, rabino e marido de Yaffie.

    Mendel toca desde 2014 a segunda linha da Crown Wigs. A ideia é vender, pela internet, perucas mais baratas do que as top de linha feitas por Yaffie. O que muda é o fio, ao invés de indígenas, são chineses. "A Yaffie criou sete modelos e passamos a fazer em escala, assim é possível vender por um preço mais baixo". O valor no site varia entre R$ 2.400 e R$ 3.600. Eles não divulgam o valor das peças exclusivas feitas por Yaffie.

    SUCESSO NA COLÔNIA

    O negócio da família (uma das filhas cuida dos negócios em NY) começou por acaso. "Eu era professora e Mendel, diretor de escola. Quando eu vim para o Brasil, todas as mulheres da colônia [judaica] perguntavam onde eu tinha comprado minhas perucas". Entre os ortodoxos, as mulheres devem cobrir os fios naturais depois que se casam.

    Yaffie conta que sempre gostou de lidar com cabelos. "Com 17 anos, trabalhei com uma mulher que fazia perucas nos EUA". No Brasil, ela lavava e escovava as perucas das amigas. Para começar a vender, foi um pulo.

    Hoje possui mais de 200 perucas que podem ser moldadas de acordo com o gosto da cliente.

    Quem compra no site, também recebe atendimento: Mendel já atendeu cliente até via Skype. No site, há sete modelos (do mais curto ao mais comprido), em sete cores. Elas estão disponíveis três tamanhos (P, M e G). No site também ensinam a medir a cabeça e o comprimento do fio é medido a partir da raiz.

    PS: as perucas são o segredo da aparência jovial de Yaffie. "Com a idade, nossos cabelos ficam mais ralos."

    http://www.crownwigs.com.br/loja/

    heloísa negrão

    Escreveu até setembro de 2016

    Boniteza

    É formada em jornalismo pela PUC-SP e em ciências sociais pela USP. Foi editora-adjunta de Novas Plataformas e repórter da revista sãopaulo.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024