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    Heloísa Negrão

    Marca inglesa não faz promoções por ser contra o consumismo exagerado

    11/12/2015 17h07

    Os ingleses são apegados às tradições (Hello, família real!!). Caderninhos, agendas, bibelôs aos montes e canecas rebuscadas para chá se amontoam em inúmeras lojinhas de Londres. Enquanto por aqui enlouquecemos com as máquininhas de café expresso, por lá, o chá ainda parece ser feito da mesma maneira que a avó da rainha fazia.

    Esse clima low-profile tecnológico explica em parte o sucesso da marca de cosméticos Lush. Nascida na cidade litorânea de Poole, ela mantém seu principal escritório lá. Seus fundadores, ainda entram todos os dias pela porta da primeira loja da rede para trabalharem. O escritório-laboratório fica no piso superior de um charmoso conjunto de sobrados, que parece ter saído de alguma página de um livro do Harry Potter.

    "Gostamos de ficar na loja para nunca esquecermos de onde viemos", diz Rowena Bird, uma das fundadoras da marca. Perto da loja, o escritório onde o restante da equipe trabalha tem ares super cool, do tipo Google e Facebook. A única diferença é que, por ali, todos os petiscos servidos são veganos.

    Heloísa Negrão/Folhapress
    Em Poole, linha de produção das "bombas" de sais de banho
    Em Poole, linha de produção das "bombas" de sais de banho

    A Lush é querida entre os vegetarianos. Nenhum dos seus produtos é testado em animais e o seu logo representa duas lebres briguentas. "Não podemos dizer que 100% dos produtos são veganos, por que usamos mel em algumas coisas, por exemplo", explica Anna Andrade, PR da marca auqi no Brasil. Bird explica que os investimentos são em tornar os seus cosméticos cada vez mais naturais, com menos adição de conservantes.

    FRESCOR

    A ideia de produzir produtos fresquinhos é levada à sério. Na área onde se produz as máscaras faciais frescas, frutas e flores são entregues todos os dias às 6h. "O pedido das lojas chega num dia, começamos a fazer na manhã seguinte e na mesma noite já mandamos para as lojas", diz Matthew Bradbrook, treinador na fábrica em Poole.

    As bolas de sais de banho são "apertadas" uma a uma e manualmente, em moldes que parecem aqueles usados por crianças para brincar na areia da praia. Uma máquina facilmente substituiria esse trabalho, mas a questão é ideológica. "Não queremos que uma máquina faça milhares de bombas, que ficarão por muito tempo nos estoques. Produzimos em pouca quantidade para que os produtos cheguem sempre frescos aos consumidores", explica Karl Bygrave, diretor da Lush.

    "Você nunca verá um saldão da Lush, pois não queremos que você compre muitos potes e guarde em casa. Basta comprar um e quando acabar, o cliente vem buscar outro", completa Bygrave.

    Heloísa Negrão/Folhapress
    Operário preenche "bolo" de sabonete, que depois é fatiado nas lojas
    Operário preenche "bolo" de sabonete, que depois é fatiado nas lojas

    O método riponga é importante para a economia local: a Lush é a segunda maior empregadora da pequena Poole. Só perde para uma fábrica de barcos.

    A ideia de ter produtos frescos e jamais testar em bichos limita a produção. A marca demorou anos para conseguir aprovar o seu protetor solar e se recusa a usar ingredientes antirrugas que exigem testes em animais. "Não vamos ter um creme que faça a mulher parecer 10 anos mais nova, por que isso não faz sentido", pondera Karl, com sua voz baixa e seu terno xadrez.

    A empresa não faz campanha publicitária. A verba que seria usada em comerciais vai para causas sociais, como o Lush Prize. Este ano, o prêmio distribuiu 450 mil libras entre pesquisadores que visam acabar com as cobaias de laboratório. Esse ano, a brasileira Bianca Marigliani foi uma das vencedora da categoria "Jovem Pesquisador".

    A marca também paga lobistas de ONGs que atuam na China, país onde o teste em animais é obrigatório inclusive nos produtos finais. Em países da África, compra terrenos e oferece sementes para incentivar a produção de subsistência das famílias locais.

    Heloísa Negrão/Folhapress
    Funcionário aplica glitter comestível nas bolas de sais de banho. A marca usa o brilho culinário por ser biodegradável.
    Funcionário aplica glitter comestível nas "bombas". A marca usa o brilho culinário por ser biodegradável.

    A colunista Heloísa Negrão viajou à Inglaterra a convite da Lush

    heloísa negrão

    Escreveu até setembro de 2016

    Boniteza

    É formada em jornalismo pela PUC-SP e em ciências sociais pela USP. Foi editora-adjunta de Novas Plataformas e repórter da revista sãopaulo.

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