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    Henrique Meirelles

    Responsável e competitivo

    20/01/2013 03h30

    Entrando no sexto ano de crise, cujos primeiros sinais apareceram em 2007 no mercado imobiliário dos EUA, podemos, hoje, ter noção mais clara do ocorrido e da tendência presente e futura.

    Ela começou como crise de crédito clássica nos EUA. Uma prolongada conjunção de estabilidade e crescimento com juros baixos permitiu expansão de crédito e tomada de risco insustentáveis.

    O crédito imobiliário "subprime" foi muito bem até 2007, elevando o preço dos imóveis. Quando se atingiu o limite de endividamento e muitos não honraram pagamentos, ocorreu processo inverso de queda de preços e de perdas dos credores. A capacidade dos bancos de emprestar desabou. E o aperto de crédito espalhou a crise pela economia, causando contração econômica.

    Isso foi compensado pelo governo com aportes fiscais e ações monetárias do Fed que restabeleceram a saúde do sistema financeiro e de grandes empresas, processo completado por reformas estruturais nas grandes corporações.

    O segundo passo da crise se deu na Europa, onde países do sul enfrentaram o mesmo problema dos EUA, só que os mais vulneráveis lá eram os governos. O processo de desalavancagem europeu foi complicado pelo fato de esses países serem parte do euro, sem políticas monetária e cambial próprias para atender a necessidades nacionais específicas. O enfrentamento se deu via reformas estruturais, austeridade fiscal e ação decisiva do BC europeu para estabilizar o euro, garantindo liquidez dos bancos e de dívidas de países.

    O que vemos agora?

    Os EUA reagem melhor. Sua economia é mais dinâmica, tem maior flexibilidade trabalhista e um sistema financeiro mais veloz para reconhecer perdas e recompor balanços. As empresas foram agressivas na reestruturação. Hoje, elas têm produtividade superior ao do início da crise, produzem mais gastando menos e são muito lucrativas. Há ainda o desafio fiscal, mas Congresso e Executivo negociam uma síntese entre a necessidade de ajuste da dívida no longo prazo e o risco de que ajustes de curto prazo causem recessão.

    Na Europa, o desafio é maior, pois há deficiências estruturais. Países do sul e do norte têm a mesma moeda, mas competitividades diferentes, o que torna o equilíbrio instável. Será inevitável que ou os países do sul façam reformas profundas por competitividade ou haja saída gradual do euro.

    São duas então as lições da crise: 1) Ciclos de expansão de crédito geram mais consumo e investimento, elevando o crescimento potencial, mas, quando o endividamento torna-se excessivo, geram crises de consequências graves ao emprego e ao crescimento; 2) Produtividade e competitividade são as palavras-chave para o crescimento no longo prazo.

    HENRIQUE MEIRELLES escreve aos domingos nesta coluna.

    henrique meirelles

    Escreveu até maio de 2016

    É presidente do Conselho da J&F. Foi presidente do Banco Central de 2003 a 2010.

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