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    Henrique Meirelles

    Exuberância racional

    10/03/2013 03h30

    No momento em que a Bolsa brasileira tem trajetória incerta, a Bolsa de Nova York bate recordes históricos de valorização. É instrutivo entender as razões desse fenômeno, uma vez que a economia norte-americana está ainda em processo inicial de recuperação e a europeia, grande parceira comercial dos Estados Unidos, segue em dificuldades.

    Para isso, devemos olhar a produtividade, a flexibilidade e a rapidez de adaptação da economia norte-americana.

    O sistema financeiro daquele país reagiu de forma muito rápida à crise de 2008 e à escassez de crédito decorrente. Os prejuízos foram logo reconhecidos, o governo deu crédito para recuperar os bancos e a gestão dessas instituições foi substituída. Os acionistas perderam com a queda forte das ações, mas as instituições, a partir dali, puderam se capitalizar e voltar a crescer.

    Já a reestruturação das empresas norte-americanas não financeiras promoveu grande aumento da produtividade. Num primeiro momento, isso resultou no que se chamou de recuperação sem geração de empregos, o que não é desejável. Mas a saúde financeira das empresas, seu dinamismo e sua capacidade de recuperação devolveu tração à economia. As empresas agora estão capitalizadas e prontas para investir.

    É necessário mencionar ainda a enorme injeção de liquidez promovida pelo Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos), que recuperou o preço de ativos, como as ações das empresas. Isso aumentou a riqueza percebida da população e sua intenção de gastar, já que o número de norte-americanos que investe na Bolsa é enorme comparado ao de outros países.

    Diante dessa rápida capacidade de adaptação do setor privado e público dos Estados Unidos às mudanças econômicas, o mercado, como sempre, antecipa resultados. E bate recordes.

    Na medida em que as empresas estão bem, a economia se recupera e a atuação do governo sinaliza segurança, tranquilidade e estabilidade ao investidor, a atividade econômica começa a se recuperar e os investimentos passam a reagir. E não só no mercado de ações, mas também na chamada economia real, como se vê na melhora do setor imobiliário, grande gerador de empregos.

    Dito isso, é importante lembrar que tudo o que sobe em demasia acaba caindo. Os ciclos econômicos evidentemente não foram abolidos, e um ajuste de preços das ações virá em algum momento. Mas entender os motivos da recuperação da Bolsa norte-americana --ação rápida e focada do governo e das empresas, com segurança para o investidor-- pode iluminar o caminho à frente.

    henrique meirelles

    Escreveu até maio de 2016

    É presidente do Conselho da J&F. Foi presidente do Banco Central de 2003 a 2010.

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