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    Henrique Meirelles

    Bônus da austeridade

    29/09/2013 03h00

    A impressionante vitória eleitoral de Angela Merkel na Alemanha marcou um momento importante para o futuro da Europa e do euro. Foi a vitória de uma governante sem grande charme ou apelo popular, que conduz o governo com forte responsabilidade fiscal.

    A chanceler alemã é a verdadeira dama de ferro da Europa. Demanda dos países em crise austeridade fiscal e reformas para aumentar a produtividade em troca da ajuda alemã. Como na Espanha, que tem ainda longo caminho a percorrer, mas já conta com estrutura de custos competitivos, é capaz de exportar e atrair de volta indústrias que tinham fugido dos altos custos.

    A Alemanha teve peculiar trajetória político-econômica desde a reunificação, liderada por Helmut Kohl, em 1990. Do mesmo partido conservador de Merkel, Kohl empreendeu grande expansão fiscal para acelerar a reunificação. Obteve uma conquista histórica, realizando grande ambição do povo alemão, mas deixou o país com pesadas dívidas fiscais e securitárias, comprometendo a competitividade.

    Depois da prodigalidade de direita com Kohl, os alemães conduziram a esquerda ao poder, em 1998. O governo do social-democrata Gerhard Schröder, para surpresa de alguns, conduziu forte ajuste, aumentou a idade de aposentadorias e exigiu o compromisso de empresas e trabalhadores em prol da produtividade e da austeridade.

    Após sete anos no poder, os social-democratas se desgastaram com as reformas impopulares e perderem a eleição de novo para os conservadores. Merkel, criada na Alemanha Oriental comunista e, por isso, forte defensora do capitalismo, assumiu propondo justamente a austeridade depois de derrotar o partido que havia conduzido forte austeridade.

    De fato, a chanceler continuou o programa de austeridade, que tornou a Alemanha mais competitiva e a consolidou como âncora da estabilidade europeia: um país democrático, pacífico, produtivo, afluente e progressista.

    Mas, embora Merkel tenha vencido as eleições de forma triunfal, com 311 das 630 cadeiras do Bundestag, seus aliados liberais não obtiveram os 5% dos votos necessários para entrar no Parlamento e recompor a maioria. Os liberais ficaram desgastados porque prometeram redução de impostos, que Merkel acabou barrando para manter o equilíbrio das contas do governo, pressionadas pela ajuda aos países europeus em crise.

    Merkel, portanto, pode ter de se aliar mais uma vez aos social-democratas, como aconteceu no seu primeiro governo, ou aos Verdes. Independentemente dos acordos e das alianças, uma coisa todos já sabem: a austeridade e a competitividade alemãs serão mantidas.

    henrique meirelles

    Escreveu até maio de 2016

    É presidente do Conselho da J&F. Foi presidente do Banco Central de 2003 a 2010.

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