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    Henrique Meirelles

    Antes cedo do que nunca

    10/11/2013 03h00

    O debate eleitoral no Brasil foi antecipado e atinge, a quase um ano das eleições, temperaturas elevadas, o que é normal nessas disputas. Até aqui, trata-se de um debate fortemente focado em política econômica.

    Por um lado, isso é muito positivo. A economia é tema central para o Brasil nesse momento. Quanto mais os temas econômicos forem debatidos, mais a população brasileira poderá decidir sobre eles de forma consciente e melhor será o processo de administração econômica do país.

    Por outro lado, a antecipação do debate eleitoral centrado na economia causa grande politização do tema, impregnando-o de paixão e ideologia e reduzindo a objetividade e a racionalidade das análises.

    As questões econômicas são, por definição, complexas, com aspectos técnicos, políticos e sociais. A segregação analítica desses diversos fatores é necessária para o avanço no entendimento das decisões econômicas fundamentais para o país.

    Assuntos como Orçamento público, metas de inflação, deficit fiscal, dívida pública, balança comercial, transações correntes e outros impõem esforços visando clareza e objetividade, para que o debate seja responsável, produtivo e inclusivo.

    Esse desafio seria enorme numa situação normal do país, já que as discussões econômicas aqui tendem a ser extremamente politizadas e emocionais, dadas as características da história brasileira. No contexto eleitoral, prolongado devido à antecipação da campanha, o desafio fica ainda maior e, por isso mesmo, mais necessário.

    É preciso ressaltar que o debate tem avançado muito nos últimos anos no Brasil, na medida em que os temas da economia são mais discutidos por uma população que sente e compreende cada vez mais os efeitos diretos das políticas econômicas em seu bem-estar. Exemplos enfáticos dessa evolução são as discussões públicas sobre o aumento da inflação e a piora do resultado fiscal.

    Para seguirmos avançando, é fundamental que a população seja informada da maneira mais objetiva e clara possível sobre os custos e benefícios das diversas decisões econômicas, não só para o país como um todo, mas também para os diversos segmentos da sociedade brasileira, que são impactados de formas diferentes pelas medidas tomadas em Brasília.

    Aqueles que participam das discussões de políticas econômicas devem estar atentos e conscientes dos riscos e das oportunidades do prolongado debate eleitoral com foco na economia.

    Todos sairão ganhando se ele for menos passional, mais racional e inclusivo.

    henrique meirelles

    Escreveu até maio de 2016

    É presidente do Conselho da J&F. Foi presidente do Banco Central de 2003 a 2010.

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