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    Henrique Meirelles

    A bolha das bolhas

    DE SÃO PAULO

    27/07/2014 02h01

    Cresce a preocupação de alguns analistas de que estamos vendo a formação de megabolha de ativos em várias partes do mundo, cujo estouro poderia gerar uma crise de dimensões ainda maiores do que as da década passada. A diferença, agora, é que seria uma bolha de diversos tipos de ativos, enquanto na última crise tivemos o estouro da bolha imobiliária nos EUA.

    O FMI não crê na formação da megabolha, mas, por precaução, recomenda aos países diminuir vulnerabilidades.

    Para entender as preocupações atuais, temos que olhar a formação recente de bolhas. O período de duas décadas anteriores à grande crise nos EUA foi chamado de a "Grande Moderação", caracterizado por juros e inflação baixos e alto crescimento. A evolução da política monetária, que ganhou potência e credibilidade, a importação de deflação em dólar via produtos chineses e outros fatores mantiveram a inflação em níveis aceitáveis, apesar do juro baixo e da alta liquidez. Mas não impediu grande alta no preço de ativos, principalmente imóveis e ações de tecnologia.

    O primeiro resultado foi o estouro da bolha da internet, em 2000. O Fed (BC dos EUA) reagiu com injeção de grande liquidez, política replicada quando os ataques terroristas de 2001 provocaram contração temporária da economia americana. Assim, o preço dos imóveis seguiu em alta.

    Mas tudo o que sobe em excesso desce. O preço dos imóveis despencou, incapacitando tomadores de empréstimos imobiliários de honrar pagamentos. Foi o início da última grande crise.

    A injeção de liquidez, desde então, é muito mais forte que em estouros de bolhas anteriores. E está elevando os preços de vários ativos no mundo, como imóveis, ações e títulos públicos e privados.

    A Espanha emitiu dívida com os juros mais baixos em mais de um século pouco depois de sua severa crise. Países insolventes, como Senegal e Costa do Marfim, voltam a captar valores expressivos a juros historicamente baixos, construindo a próxima crise de dívida soberana. Imóveis em Manhattan voltam a atingir preços impensáveis há poucos meses.

    São alertas de que uma megabolha pode se formar em diversos ativos e países, cujo estouro geraria problemas ainda maiores.

    É importante que a economia brasileira esteja preparada para todas as eventualidades. É preciso reequilibrar o quanto antes as contas públicas e adotar maior transparência fiscal para que os agentes econômicos sintam mais confiança. E também levar a inflação de volta à meta.

    Quanto mais estável e sólida estiver nossa economia, mais protegida estará a população brasileira diante dos riscos da megabolha. Ou do estouro de uma mera bolha.

    HENRIQUE MEIRELLES escreve aos domingos nesta coluna.

    henrique meirelles

    Escreveu até maio de 2016

    É presidente do Conselho da J&F. Foi presidente do Banco Central de 2003 a 2010.

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