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    Henrique Meirelles

    Crescer é competir

    16/11/2014 02h00

    Na intensa discussão sobre a retomada do crescimento é crucial analisar a economia mundial na qual estamos inseridos, porém, indo além da discussão pontual sobre até que ponto o mundo já saiu da crise. Para isso é necessário entendermos os desequilíbrios que a geraram, como evoluíram e para onde vamos.

    A raiz do desequilíbrio foi a relação simbiótica entre EUA e China. Os EUA saíram de fase de crescimento baixo e inflação mais alta por meio de forte aperto monetário no início dos anos 1980. O país então iniciou período de crescimento elevado, com juros e inflação mais baixos, num processo de estabilização de expectativas inflacionárias e forte credibilidade do Fed (o BC dos EUA). Mas o longo período de juros baixos e estabilidade, numa economia afluente, elevou o consumo e o endividamento, refletido na frente externa pelo aumento do déficit nas contas correntes. Os EUA cresceram muito, com poupança cada vez mais baixa e consumo em alta.

    Complementarmente, a China desenvolveu política de exportação agressiva aproveitando o apetite dos EUA por seus produtos baratos. Ancorou o modelo num nível de poupança muito alto, salários baixos e investimentos agressivos das empresas, que geraram muitos empregos (até 30 milhões/ano) e reservas internacionais acima de US$ 3 trilhões.

    Boa parte dessa poupança financiou o deficit externo dos EUA. Simplificando equação complexa, quando o americano comprava, gerava poupança na China, que ajudava a financiar o consumo americano ao comprar papéis da dívida dos EUA. Essa simbiose permitiu crescimento vigoroso a ambos por longo período.

    Mas a hora do ajuste chegou. Os EUA sofreram crise de crédito, com redução do endividamento e aumento da poupança doméstica. Isso forçou adaptação chinesa. Pequim ganhou tempo com políticas agressivas de investimentos em infraestrutura e, esgotado o ciclo, entra gradualmente em terceira fase, de aumento do consumo doméstico e salários, o que geras custos. Mas a China tem hoje maturidade econômica para investir pesadamente em alta tecnologia, produtividade e educação, entrando até em mercados cativos dos americanos.

    Já os EUA, que tinham perdido seu poderio industrial para os asiáticos, voltam a ser competitivos mesmo em áreas como indústria pesada e petroquímica, impulsionadas pela maior produtividade e energia mais barata. Países europeus também fazem reformas profundas para competir neste novo mundo.

    A lição ao Brasil é que temos de ajustar nossa economia enquanto investimos em infraestrutura, produtividade e educação. Assim poderemos competir e crescer num mundo que sairá da crise mais forte e competitivo.

    henrique meirelles

    Escreveu até maio de 2016

    É presidente do Conselho da J&F. Foi presidente do Banco Central de 2003 a 2010.

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