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    Henrique Meirelles

    O DNA dos ajustes

    07/06/2015 02h00

    Os ajustes econômicos são influenciados tanto pelas ações dos governos quanto pela reação dos eleitores. Reino Unido e Espanha, por exemplo, após sofrerem muito na crise, elegeram conservadores para governá-los. Tanto o Partido Popular espanhol quanto o Partido Conservador britânico fizeram ajustes fiscais severos e reformas estruturais pela produtividade. Hoje seus países crescem a taxas consistentes e reduzem o desemprego.

    As últimas eleições nos dois países, entretanto, marcaram diferenças relevantes. Os conservadores britânicos conseguiram vitória histórica nas eleições gerais, consagrando suas políticas de austeridade e reformas. Além dos trabalhistas, derrotaram também o partido Ukip, que havia crescido na onda populista da Europa pós-crise. Já a Espanha viu o triunfo desses partidos populistas nas eleições municipais –um pela esquerda, o Podemos, e um pela direita, o Ciudadanos, ambos opostos aos ajustes e reformas.

    Essas diferenças entre os dois países passam pela maior robustez histórica da economia britânica, o desemprego muito maior na Espanha e a essência da crise em cada um.

    O programa de austeridade britânico reduziu despesas públicas e agora, numa segunda fase, já corta impostos –ao contrário do que ocorre, por exemplo, no programa brasileiro. Os britânicos, na iniciativa pública e privada, pouparam mais para reduzir suas dívidas, e o ajuste se aproxima do final.

    A Espanha também tinha alto endividamento, mas maior e mais difícil de administrar que o britânico. O governo conservador reduziu o nível das dívidas com ajuda da União Europeia em troca de racionalização tributária, ajustes no tamanho do Estado e reformas. O país voltou a crescer e caminha para superar a crise, voltando gradualmente a gerar emprego.

    Mas por que, então, os conservadores perderam as eleições na Espanha e venceram no Reino Unido? É uma questão complexa sobre sociedades complexas, mas a perspectiva histórica ajuda a entender.

    A tradição ibérica, entre muitos fatores, sempre teve maior presença e dependência do Estado. Quando o ajuste reduz o tamanho desse Estado e os benefícios que ele distribui, a reação tende a ser maior e os benefícios das mudanças, menos visíveis.

    A população do Reino Unido, atualmente com economia mais aberta e menos estatista, aceita melhor a contenção de benefícios governamentais e aprecia mais a austeridade e o crescimento que une geração de empregos no setor privado e contas públicas equilibradas.

    Esta é uma visão simplificada de contextos complexos. Em dito isso, é importante notar essas diferenças e, finalmente, que a renda per capita britânica é cerca de 50% maior que a espanhola.

    henrique meirelles

    Escreveu até maio de 2016

    É presidente do Conselho da J&F. Foi presidente do Banco Central de 2003 a 2010.

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