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    Henrique Meirelles

    O grande experimento

    22/11/2015 02h00

    A crise global começou nos EUA com o estouro da bolha financeira e depois se disseminou em formas e intensidades diferentes pelo mundo, gerando respostas variadas de política econômica, algumas mais eficazes que outras. E é justamente nos EUA que a plena recuperação econômica está cada vez mais próxima.

    A estratégia do FED foi enfrentar a grave crise de demanda induzida por um colapso do crédito causado pelo estouro da bolha financeira. Inicialmente, o FED usou a política monetária clássica de redução da taxa básica de juros. Quando os juros se aproximaram de zero, na segunda metade de 2008, o FED deflagrou processo de sucessivas rodadas de uma política conhecida como "quantitative easing" (QE), ou "relaxamento quantitativo".

    Resumidamente, o QE consistiu na compra pelo FED de títulos emitidos pelo governo americano e alguns tipos de títulos privados, que resultaram na injeção de quantidades maciças de liquidez na economia.

    Entre outras razões, o QE funcionou bem nos EUA porque parte importante do patrimônio das famílias americanas está em ações de empresas cotadas nas Bolsas. A injeção de liquidez aumentou o preço dessas ações, dado o maior capital disponível para adquiri-las. Assim, o patrimônio líquido das famílias também cresceu, permitindo elevação do consumo, que por sua vez aumentou as vendas das empresas, o que as levou a contratar mais funcionários. Essa dinâmica reforçou o aumento da demanda e das vendas, criando círculo virtuoso na economia. Numa segunda etapa, os preços das residências, outro ativo relevante do patrimônio dos americanos, também reagiram, reforçando o ciclo.

    Mais recentemente, a Europa adotou um programa como o QE. Mas lá o efeito é diferente e menos intenso, pois, entre outros fatores, não vemos a mesma participação de empresas e cidadãos no mercado de ações europeu. A injeção de liquidez na região atua fundamentalmente no crédito.

    Depois de ter já anunciado o fim do QE, o FED sinaliza agora o retorno iminente à política monetária clássica de aumento dos juros para conter o superaquecimento da economia americana, já detectável no mercado de trabalho. O objetivo das futuras altas de juros é evitar que a inflação fique acima da meta de 2% e também a formação de novas bolhas de ativos.

    O grande experimento de política monetária americana, próximo do fim, reforça algumas lições. Uma das mais importantes é que cada país deve identificar as raízes dos seus problemas de forma precisa e aplicar as ações adequadas com foco, vigor e determinação. Só assim é possível assegurar que ao longo do tempo o país crescerá explorando todo o seu potencial.

    henrique meirelles

    Escreveu até maio de 2016

    É presidente do Conselho da J&F. Foi presidente do Banco Central de 2003 a 2010.

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