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    Henrique Meirelles

    Antidepressivo

    06/12/2015 02h00

    A evolução dos dados econômicos deixa claro que a recessão começa a atingir patamares de depressão. A expectativa de queda do PIB neste ano ultrapassa 3%, e alguns analistas preveem que chegue a 4%. Para 2016, as previsões de retração já se aproximam de 3%. Projeções para 2017 e 2018 continuam sendo revisadas para baixo e, apesar de ainda positivas, atingem taxas muito baixas e aquém do nosso potencial.

    Diante desse cenário de dificuldades crescentes, é preciso conscientizar e mobilizar a sociedade não só para enfrentar os problemas fiscais de curto prazo, como também para adotar as medidas necessárias à retomada do crescimento –ou seja, as reformas fundamentais que conduzem ao aumento da produtividade e do crescimento. São reformas já comentadas nesta coluna e que precisam entrar cada vez mais no debate público e político.

    Não resta dúvida de que a agenda de reformas começa pela questão fiscal. É diagnostico comum que a trajetória do deficit das contas públicas, mesmo com a aprovação das medidas já propostas pelo governo, pode levar sua dívida a um patamar insustentável, a não ser que sejam adotadas ações estruturais e abrangentes. Mas elas devem vir em conjunto com outras medidas que gerem a retomada do crescimento.

    A gravidade dos problemas do país fica ainda mais clara quando vemos as injeções maciças de liquidez do Banco Central dos EUA e as taxas de juros negativas do BC Europeu, enquanto o BC brasileiro sinaliza a possibilidade de um novo aumento da já elevada taxa de juros em meio a uma contração fortíssima da economia.

    Essa combinação de juros altos e recessão é causada pela queda da confiança dos agentes econômicos. Os dados do PIB do terceiro trimestre, anunciados na semana passada, explicitam essas incertezas de forma dramática. A queda aguda dos investimentos no período mostra novos desequilíbrios de oferta e demanda, enquanto mecanismos de indexação começam cada vez mais a prevalecer na economia em consequência das perspectivas de inflação elevada.

    Nesse contexto, a taxa de juros é um mero reflexo dos desequilíbrios da economia brasileira. E, como aconteceu na década passada, só começará a cair quando a trajetória fiscal mudar de direção, a confiança for restabelecida e a oferta da economia voltar a crescer por meio do aumento dos investimentos.

    É natural que o debate nacional fique agora concentrado no impeachment. Passado este momento, é fundamental que as discussões foquem não só num ajuste fiscal estrutural e duradouro, mas também nas reformas pró-crescimento. Essa combinação facilitará o próprio ajuste e poderá nos levar a um ciclo virtuoso no qual uma reforma facilita a implementação da outra.

    henrique meirelles

    Escreveu até maio de 2016

    É presidente do Conselho da J&F. Foi presidente do Banco Central de 2003 a 2010.

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